IDIOTAS ÚTEIS = COLETIVISMO MENTAL
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Ronaldo Ausone Lupinacci* Durante o mês de maio último o presidente Jair Bolsonaro utilizou a expressão “idiotas úteis” para se referir aos manifestantes que protestavam contra o corte de verbas para a educação¹. O fato desencadeou grande movimentação nas redes sociais e na mídia, e merece atenção porque a “idiotice útil” é um fenômeno já […]

Ronaldo Ausone Lupinacci*

Durante o mês de maio último o presidente Jair Bolsonaro utilizou a expressão “idiotas úteis” para se referir aos manifestantes que protestavam contra o corte de verbas para a educação¹. O fato desencadeou grande movimentação nas redes sociais e na mídia, e merece atenção porque a “idiotice útil” é um fenômeno já antigo, e, que tende a sobreviver no ambiente atual.

Há algum tempo atrás era mais usada a designação “inocente útil”, com o mesmo significado². Mas, o que vem a ser o “idiota útil” ou “inocente útil”?

Atribui-se a expressão a Lenin (Vladimir Ilitch Ulianov) o revolucionário que liderou a implantação do comunismo na Rússia em 1917, ponto controverso porque, segundo outros, a paternidade da qualificação caberia a Yuri Alexandrovich Bezmenov³, ex-agente soviético que desertou para o Ocidente. De qualquer forma a denominação é lapidar porque designa perfeitamente uma realidade: o idiota que é útil. Refere-se às pessoas que sem serem comunistas, ou mesmo esquerdistas, apóiam as iniciativas do comunismo participando de passeatas, manifestações, reuniões públicas, listas de assinaturas, etc., ajudando criar a impressão de que tais iniciativas são justas e gozam de grande apoio popular (especialmente, estudantes, professores, ativistas diversos, feministas, racistas e congêneres). O sentido depreciativo se liga à natureza pouco ou fracamente reflexiva de tais pessoas, desprezadas pelos próprios comunistas por serem facilmente manobradas.

No caso concreto parece-me que Bolsonaro tinha razão porque foi criado um clima de grande apreensão com os cortes de verbas, do qual os comunistas (e seus costumeiros satélites) se aproveitaram para desfechar a agitação e atingir o governo. Todavia, não é dos incidentes de maio que pretendo me ocupar aqui.

Há um fenômeno que vem despertando minha curiosidade faz muito mais tempo, e que designo por “coletivismo mental”. Este fenômeno explica a proliferação dos idiotas úteis. A sociedade contemporânea vive em atmosfera de despersonalização pressionando os indivíduos a seguirem a maioria (ou aquilo que se atribui à maioria…) sem refletir sobre o acerto ou o erro da orientação da maioria. É estado de espírito semelhante àquele descrito pelo filósofo estruturalista Claude Lévi-Strauss para os povos primitivos. Plínio Corrêa da Oliveira em “Revolução e Contra-Revolução” comenta que o “estruturalismo vê na vida tribal uma síntese ilusória entre o auge da liberdade individual e do coletivismo consentido, na qual este último acaba por devorar a liberdade. Segundo tal coletivismo, os vários ‘eus’ ou as pessoas individuais, com sua inteligência, sua vontade e sua sensibilidade, e conseqüentemente seus modos de ser, característicos e conflitantes, se fundem e se dissolvem na personalidade coletiva da tribo geradora de um pensar, de um querer, de um estilo de ser densamente comuns.” E prossegue: “Nas tribos, a coesão entre os membros é assegurada sobretudo por um comum pensar e sentir, do qual decorrem hábitos comuns e um comum querer. Nelas, a razão individual fica circunscrita a quase nada, isto é, aos primeiros e mais elementares movimentos que seu estado atrofiado lhe consente. “Pensamento selvagem”, pensamento que não pensa e se volta apenas para o concreto. Tal é o preço da fusão coletivista tribal”.

A transformação do homem consciente e refletido, que impõe silêncio a seus apetites e suas paixões, em “robô” manobrado pela propaganda, súdito do coletivismo mental não se deu de um momento para outro. Vem ocorrendo lentamente, desde talvez mais de um século. Para os católicos muito influiu neste processo a pressão para adaptação ao mundo moderno. É claro que isso não decorreu, preponderantemente, de leituras de autores estruturalistas, mas de alterações nas tendências e nas idéias acentuadas a partir da Primeira Grande Guerra. Um dos motores mais possantes do coletivismo mental reside nas modas que são criadas ou alteradas por meia dúzia de pessoas para se impor sobre toda a sociedade. Mas, não apenas modas no vestuário: nos adornos, nos penteados, na linguagem, no comportamento em geral. Os espíritos superficiais, carentes de convicções sólidas são propensos ao mimetismo, com o que se deixam governar pelas tendências que estão “no vento”, na moda, na mídia… Lembro-me de que mais ou menos trinta anos atrás estava na moda a leitura do escritor italiano Umberto Eco, como antes estiveram outros como Alexandre Dumas. Antes e depois se sucederam muitas modas em diversos campos. E, aqueles que reagem contra pressões da correnteza coletivista freqüentemente são vítimas de “bullying”.

A maior mobilização de idiotas úteis que já observei se deu recentemente a propósito de supostas mudanças climáticas de origem antrópica, e dos incêndios na floresta amazônica. A mídia deu espetacular realce à ativista ambiental Greta Thunberg que, também prestigiada por altas autoridades do “Establishment” político e religioso, teve meios de arrastar para protestos de rua milhares de jovens em várias partes do mundo. Ignorantes, desconhecedores de que o tão propalado aquecimento global é contestado por incontáveis cientistas (silenciados pela mídia), se atiraram em empreitada cujo desfecho são incapazes de prever…

Novas mobilizações se devem suceder ao Sínodo Amazônico, com o intuito de convencer a Humanidade que deve retornar à Idade da Pedra ou quase tanto. Afinal o que ali se prestigia é a vida selvagem…, meta do estruturalismo. E, outros “tsunamis” com finalidades correlatas poderão ser desencadeados pelas forças que dirigem a propaganda, a política e a economia.

Quem não quiser ser arrastado pela maré do coletivismo mental deve manter vigilante atenção sobre os acontecimentos, refinar o espírito crítico e desconfiar de tudo aquilo que é prestigiado e promovido como novidade. Sob pena de, em não o fazendo, se tornar idiota útil.

Não advogo aqui o culto à própria soberba, pois nem sempre temos condições de fazer juízos exatos sobre os fatos. Porém, precisamos cuidar para não ser empurrados pela correnteza que conduz à ruína.

* O autor é advogado.

¹https://exame.abril.com.br/brasil/nos-eua-bolsonaro-chama-manifestantes-contra-cortes-de-idiotas-uteis/
²http://www.noticiario.com.br/noticia.php?cod_noticia=9599
³https://pt.wikipedia.org/wiki/Yuri_Bezmenov
Jornal Nova Fronteira