Fake News, reflexão final
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Querido leitor. Quando estiver lendo este artigo, o tsunami das eleições será passado, mas as suas consequências ainda serão bem visíveis. Teremos um novo presidente louvado pela metade dos eleitores e odiado e/ou temido pela outra metade. Estaremos com raiva de amigos, parentes e conhecidos pelo conteúdo ‘inadmissível’ postado nas redes sociais e teremos retirado a amizade da metade das pessoas que abarrotam nossa moderna vida virtual.
A Verdade saindo do poço”, Jean-Léon Gérôme, 1896. Museu Moulins, França

 

* Fabio Claudio Tropea
ftropea8@msn.com
fabioclaudiotropea@gmail.com

Querido leitor. Quando estiver lendo este artigo, o tsunami das eleições será passado, mas as suas consequências ainda serão bem visíveis. Teremos um novo presidente louvado pela metade dos eleitores e odiado e/ou temido pela outra metade. Estaremos com raiva de amigos, parentes e conhecidos pelo conteúdo ‘inadmissível’ postado nas redes sociais e teremos retirado a amizade da metade das pessoas que abarrotam nossa moderna vida virtual. Esse furacão tem nome novo, mas alma antiga, hoje é conhecido como Fake News, ontem e já nos princípio da vida social humana era simplesmente ‘o mundo do animal político (Zoós Politikón, Aristóteles)’.

Marc Bloch, um dos historiadores mais influentes do século XX, assassinado pelos nazistas em 1944, retornou das trincheiras da Primeira Guerra Mundial alucinado com a importância que as notícias falsas haviam tido e isso o levou a refletir sobre sua origem e difusão, num texto de uma atualidade desconcertante. “As notícias falsas mobilizaram as massas. As notícias falsas, em todas as suas formas, encheram a vida da humanidade. Como nascem? De que elementos extraem sua substância? Como se propagam e crescem?”… ‘Um erro só se propaga e se amplifica, só ganha vida com uma condição: encontrar um caldo de cultivo favorável na sociedade onde se expande. Nele, de forma inconsciente, os homens expressam seus preconceitos, seus ódios, seus temores, todas as suas emoções’. Em outras palavras, as notícias falsas necessitam de gente que queira acreditar nelas.

Então, nada de novo por baixo do sol? Sim, a rapidez com que os boatos e as mentiras se espalham na sociedade e a virulência do fenômeno. Mas a sustância fica a mesma: a despiedada luta pelo poder por uma parte e a persistente ingenuidade cidadã pela outra. As novas tecnologias da comunicação, como já tinha predito o estudioso Marshall Mc Luhan, são próteses que aumentam o poder dos órgãos humanos, e o smartphone é realmente uma extensão hoje onipresente e insubstituível dos nossos sentidos.

Termino com uma velha, mas profundamente atual parábola sobre verdade e mentira, ilustrada pelo célebre quadro reproduzido acima (que espero não me vai trazer acusações de instigação a pornografia!)

‘Certa vez, a mentira e a verdade se encontraram. A mentira disse à verdade: “Bom dia, senhora Verdade”. Antes de responder, a verdade foi conferir se realmente era um bom dia. Olhou para o alto, não viu nuvens de chuva e havia pássaros cantando. Ao constatar que realmente tratava-se de um bom dia, replicou à mentira: “Bom dia, senhora mentira”. A mentira prosseguiu: “Sente quão calor faz hoje?” E a verdade, percebendo que a mentira estava certa pela segunda vez, relaxou. A mentira então convidou a verdade para um banho no rio. Despiu-se de suas vestes, pulou na água e disse: “Venha, verdade, vale desfrutar do prazer destas águas”. Assim que a verdade, sem suspeitar, despiu-se de suas vestes e mergulhou, a mentira sorrateiramente saiu da água, vestiu-se com as roupas da verdade e se foi. A verdade, ao perceber o que se passara, recusou-se a colocar-se nas vestes da mentira. E por não ter do que se envergonhar, saiu nua a caminhar pelas ruas e vilas. E assim, desde então, esta é a razão por que, aos olhos de muita gente, é sempre mais fácil aceitar a mentira vestida de verdade do que a verdade nua e crua”.

* Italiano por nascimento e cidadão do mundo por vocação, sou semiólogo, escritor, docente, palestrante e analista das linguagens da comunicação. Sou graduado em Sociologia e Jornalismo em Urbino (Itália) e doutor em Comunicação pela UAB, Universidade Autônoma de Barcelona (Espanha), cidade aonde residi e trabalhei durante mais de 25 anos.
A minha carreira, em poucas linhas: depois da graduação, entrei estagiário e assistente na universidade de Urbino. Depois ganhei uma bolsa na Espanha para estudar o sistema cultural das midia na fase de transição do país e me estabelecei definitivamente em Barcelona, desempenhando durante muitos anos atividade de professor universitário de semiótica, comunicação e educação e, por outro lado, consultor-analista profissional, nos campos das mídia, o marketing de produto e serviço e especialmente o mix de comunicação que compõe o branding.
Há três anos, por razões familiares, me mudei para o Brasil (Barreiras, Bahia). Aqui, continuo a minha atividade como consultor/pesquisador na área de comunicação e marketing, especialmente em São Paulo, e como docente, no Instituto Europeu de Design (IED, Rio de Janeiro e Brasília), a Universidade Dom Pedro II de Barreiras, a universidade IESB de Brasília, e a FAESA de Vitoria (Espírito Santo).
Jornal Nova Fronteira