As pandemias ameaçam também essa fruta querida! (1ª parte)
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Pela manhã, as primeiras leituras na tela do nosso smart são distraídas, só procuramos mensagens importantes ou graves. O que o Google me ofereceu hoje era bem curioso. Comecei a ler e fiquei interessado na hora

*Fabio Claudio Tropea

Pela manhã, as primeiras leituras na tela do nosso smart são distraídas, só procuramos mensagens importantes ou graves. O que o Google me ofereceu hoje era bem curioso. Comecei a ler e fiquei interessado na hora. O artigo, oferecido por o site do Globoplay, iniciava com uma afirmação inquietante. Dizia: que uma doença letal apareceu do nada. Sua transmissão é silenciosa, espalhando-se antes que os sintomas apareçam. Uma vez contraída, já é tarde demais para detê-la — não há cura. A vida nunca mais será a mesma. Mas não se tratava do Covid-19. Desta vez era a Tropical Race 4 (TR4), uma doença que afeta bananas. Também conhecida como mal-do-Panamá, é causada pelo fungo Fusarium oxysporum, que vem destruindo as fazendas de banana nos últimos 30 anos. Com esse incipit atraente, digno de um filme de ciência ficção catastrófica, o artigo de repente virou muito interessante e me levou as reflexões que quero compartilhar com vocês. Pelo que contava o artigo, assim como o Covid-19, a doença que acomete bananas está se espalhando para novos países, forçando a indústria a mudar a forma como a fruta mais consumida do mundo é cultivada e até mesmo seu sabor.

A banana tem uma história antiga, com certeza mais do que a própria humanidade.

E é uma história de viagens e aventuras. Sua origem é o Sudeste Asiático, de regiões da Malásia, Indonésia e Filipinas, onde muitas bananeiras selvagens ainda crescem. Viajantes a levaram de lá para a Índia, onde é mencionada em escritas budistas datadas por volta de 600 a.C. Em passagem pela Índia com seu exército, Alexandre o Grande da Macedônia viu extensos bananais e provou seus frutos pela primeira vez. É dado a ele o crédito de levar a banana para o ocidente aproximadamente em 300 a.C. Contudo, continuou sendo rara na Europa por muitos séculos, e só se popularizou no século XX. Não foram os portugueses os que a trouxeram para o Brasil: em 1516 mudas de bananeiras foram colocadas em um navio pelo monge franciscano português Tomás de Berlanga, que as levou para a ilha caribenha de Santo Domingo, onde hoje fica a República Dominicana e o Haiti. De lá, não demorou para que ela se espalhasse pelo Caribe, América Central e sucessivamente para outros países de clima tropical. Hoje, a Índia é o maior produtor mundial, três vezes mais que o segundo colocado, Filipinas. No entanto, a maior parte da produção desses países é destinada ao consumo interno. O Equador é o maior exportador mundial, com mais de 30% do total. Uma curiosidade: a palavra banana, doce como a fruta, vem dos árabes traficantes de escravos. As bananas que cresciam na África e Sudeste da Ásia eram pequenas se comparadas às de hoje. Conta-se que eram do tamanho de um dedo e por isso teriam usado o nome banan, palavra árabe para dedo. O nome foi adoptado pelos portugueses e espanhóis, e logo pelo mundo inteiro, ingleses incluídos. Outra curiosidade: Na China, o termo banana é usado para designar qualquer pessoa de origem asiática que age como um ocidental. Sabem o porquê? Porque são amarelos por fora e brancos por dentro!

No mundo existem mais de 1.000 tipos de bananas. As que tiveram mais sucesso no mundo foram antes a Gros Michel e logo a Nanica, chamada internacionalmente Cavendish. Não tanto pelo sabor ou perfume (tem muitas outras variedades asiáticas bem melhores). Foi sobre tudo pela resistência destas bananas, cujos cachos podem ser cortados ainda verdes e aguentar longas viagens nas estivas dos navios, sem se estragar e pelo contrário, continuar emadurecendo. Isso nos faz voltar ao presente. Na década de 1950, o comércio bananeiro foi dizimado por uma das piores epidemias botânicas da história”: o chamado mal-do-Panamá ocorreu pela primeira vez na Ásia tropical. Só que na última década, essa epidemia se acelerou repentinamente, espalhando-se para Austrália, Oriente Médio, África e, mais recentemente, América Latina, de onde vem a maioria das bananas enviadas para supermercados no Hemisfério Norte. O dado é aterrador: atualmente, o mal-do-Panamá está presente em mais de 20 países, provocando temores de uma “pandemia da banana” e uma escassez da fruta mais consumida do mundo. O que aconteceu, acontece e pode acontecer no futuro será matéria para a segunda parte deste artigo. Não percam!

* Semiólogo, escritor, palestrante e analista das linguagens da comunicação, graduado em Sociologia e Jornalismo em Urbino (Itália) e doutor em Comunicação na Universidade Autónoma de Barcelona, Espanha. Contato: fabioclaudiotropea@g.mail.com
Jornal Nova Fronteira