Vitrinas Natalinas, entre tradição e inovação
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É inegável: o que mais gostamos no Natal, para além do profundo e solene significado religioso que este feriado tem para todos os cristãos, é a atmosfera que se respira no ar já várias semanas antes do 25 de Dezembro.

*Fabio Claudio Tropea

É inegável: o que mais gostamos no Natal, para além do profundo e solene significado religioso que este feriado tem para todos os cristãos, é a atmosfera que se respira no ar já várias semanas antes do 25 de Dezembro.

Sentimentos e sensações: a atmosfera de Natal abrange todos, crentes e não-crentes, tradicionalistas e modernistas; é impossível ignora-la, é envolvente, como um cobertor leve e macio, como um som de sinos de prata que interrompe o silencio durante a noite. Podemos respirá-la em todos os lugares, ao longo das ruas chamativas de luzes e festões, em todos os locais onde ressoam músicas de Natal e até mesmo nas lanchonetes e paradinhas que parecem oferecer algo diferente. Mas sobre tudo nas lojas decoradas com fitas vermelhas e douradas, nos estantes transbordando produtos bonitos, coloridos e convidativos. O Natal é uma festa para todos os sentidos, de luzes e sons ante tudo, mas também de sensações táteis, cheiros e sabores especiais, cravo, canela e cardamomo. A atmosfera de Natal vem de uma alquimia única e especial, feita de expectativa, esperanças que não desistem, uma doce nostalgia do passado, à qual é combinada com o desejo de um futuro sereno para aqueles que amamos.

Querido lojista, você não tem uma tarefa fácil, terá que mostrar uma síntese de tudo isso na sua vitrine: a arvore, o presepe, as luzes intermitentes, as fitas de mil cores e as bolas cintilantes, os pacotes festivos, o ouro e a prata. Mas deverá fazê-lo com certa originalidade, para capturar sim o espirito da festa, mas também diferenciar dos outros o seu produto e o seu estilo. No natal, tudo é bonito, mas a sua proposta deve ser mais bonita, e se puder ser, a mais bonita. Por isso, dedique uma atenção especial a sua vitrine, a festa de Natal começa aqui, nesse ponto – essa ponte – crucial entre a rua e os estantes de sua loja.

A imagem que escolhi este mês para ilustrar o artigo é muito significativa de uma boa articulação entre o tradicional e o inovador. E` uma vitrine de Hermes, uma famosa grife francesa de alto nível, que apresenta poucos produtos, como quase sempre nas lojas de luxo. A cena criada pelos vitrinistas tem como cores dominantes o vermelho e o branco, símbolos inequivocáveis da festa natalina, porém também trabalha com o cinza, para matizar e fazer más elegante o conjunto. Na vitrine, observamos personagens familiares, bem reconhecíveis. Porém, não são as que tudo o mundo espera dada a festa aludida. Temos uma menina elegante, vestida de vermelho, com chapeuzinho também vermelho, que remete a uma famosa personagem da nossa imaginação, porém só indiretamente ao mais previsível Papai Noel. Este, em todo caso, está bem presente na cena a través da rena no fundo, que leva pendurados objetos preciosos, joias. A cena, surpreendentemente, está cheia de coelhinhos, que são claros símbolos de festa, porém pascoais, não propriamente natalinos. E por último, a cor branca invadindo toda a paisagem, simbolizando a neve, porém só indiretamente, com nuvens, que dão um ar leve, celestial (e então espiritual), a composição. Tradição e inovação, ambas muito bem representadas na magnifica vitrine de Hermes, numa proporção harmônica e muito agradável, que convida a parar e naturalmente entrar nesse mundo de sonho, marca e fofura.

* Semiólogo, escritor, palestrante e analista das linguagens da comunicação, graduado em Sociologia e Jornalismo em Urbino (Itália) e doutor em Comunicação na Universidade Autónoma de Barcelona, Espanha. Contato: fabioclaudiotropea@g.mail.com
Jornal Nova Fronteira