Penteados raspados e outras anomalias
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De início, devo dizer que hesitei meses antes de escrever este artigo. Isso porque aspectos das matérias nele inseridas poderiam implicar em escândalo, que é um pecado grave, na medida que induz quem o conhece ao erro e ao desvio de conduta

*Ronaldo Ausone Lupinacci           

De início, devo dizer que hesitei meses antes de escrever este artigo. Isso porque aspectos das matérias nele inseridas poderiam implicar em escândalo, que é um pecado grave, na medida que induz quem o conhece ao erro e ao desvio de conduta. Mas, por outro lado, me vali da premissa segundo a qual a religião católica não promove o puritanismo hipócrita e preconceituoso, ao mesmo tempo em que aconselha o exame aprofundado das dúvidas morais acerca de temas de si bastante melindrosos. Feita esta introdução, passo ao assunto de hoje.

Tenho a convicção absoluta, formada ao longo de décadas de estudo e reflexão, de que as desordens da sociedade contemporânea se originam, em grande – caberia dizer grandíssima parte – de anomalias na instituição da família. Mas, a família é basicamente a união do homem e da mulher. Logo, tais desordens provém de anomalias nos comportamentos dos homens e das mulheres em suas relações bilaterais. Por anomalia designo aquilo que está errado.

Leitor habitual do excelente periódico divulgado pela associação norte-americana Tradiction In Action, no qual são abordados assuntos da mais alta relevância sob os pontos de vista religioso, político, cultural e moral me deparei, recentemente, com texto elaborado por Elizabeth A. Lozowski sobre os “penteados raspados para mulheres”[1]. No escrito a autora do artigo se refere à moda que vem se difundindo nos Estados Unidos, sobretudo, de as mulheres rasparem – no todo ou em parte – seus cabelos. Não seria preciso dizer que Elizabeth criticou veementemente tal costume, por ser contrário às tradições religiosas e culturais de quase todos os povos em quase todos os tempos.

Afirmou a escritora mencionada que faz parte da vocação da mulher embelezar a sociedade em que vive com sua aparência, sendo os cabelos marca de sua beleza e feminilidade. Em seguida a autora daquela matéria adentrou nas conexões da prática em relação ao movimento feminista. Elizabeth, todavia, não ingressou no exame de outro hábito perverso consistente da depilação pubiana, provavelmente contida pelo (outrora…) vivaz pudor feminino. Nem, tampouco, abordou a relação entre a depilação total e as práticas das lésbicas, que a meu ver, ostensiva ou veladamente incentivam a depilação vulvar para facilitar atos que não irei descrever aqui, mas são bastante conhecidos.

Em que pese a delicadeza do tema resolvi entrar no assunto porque também me parece grave, e atual, sob vários aspectos. Embora as mulheres ainda (sublinho o “ainda”) conservem cobertas suas genitálias (no dia a dia) sabemos que o costume da respectiva raspagem também vem se difundindo, para desagrado – pelo que constatei – da maioria dos homens que sobre o assunto pude consultar.

Por quais motivos surgiu o desagrado? Em primeiro lugar porque a imagem que o homem faz da mulher é o de um ser que conserva sua aparência natural, e a mulher depilada se assemelha a uma menina impúbere. Como o estímulo visual é para o homem extremamente possante, a desfiguração atua em sentido contrário, inibindo o interesse do homem pela mulher, ou seja, o ímpeto do impulso amoroso. Em segundo lugar, porque os homens, em sua imensa maioria não são pedófilos, repugnando-lhes a relação sexual com uma criança, e a tal se assemelha a mulher raspada.

Evidentemente, não pude efetuar uma pesquisa entre casais para aprofundar o assunto. Muito menos poderia realizar pesquisa entre mulheres. Mas, suponho que tal prática da depilação pubiana venha sendo, ou possa ser, motivo de desavenças num casal em vista do pensamento da maioria dos homens. Ora, a harmonia conjugal deve ser buscada mediante todos os esforços, de parte a parte. Do mal estar nas relações íntimas provém atritos que se espalham para os outros aspectos da convivência. Como – bem ao contrário – do esforço afetivo no aperfeiçoamento da vida íntima surge a disposição de conciliação, sobre tantos outros aspectos muito importantes da vida em comum, como, por exemplo, a educação dos filhos, as dificuldades financeiras, as rotinas e as metas de vida de cada casal (ou seja, de cada família).

É indispensável considerar que o amor conjugal se divide em três partes: a) o amor sobrenatural, o mais importante, vale dizer aquele em que o cônjuge é amado por amor de Deus; b) o amor natural, em que o casal se afeiçoa pelas qualidades naturais (dons artísticos ou intelectuais, por exemplo); c) o amor sensual, ou carnal, pelo qual a dupla se une pelo sentimento, e, nesse ponto, indispensavelmente, se colocam as relações sexuais. A sociedade contemporânea, dominada pelo ateísmo prático eliminou do casamento o amor sobrenatural, e, talvez venha mutilando o amor natural. Sobrevive – apenas – o amor sensual (sentimental), de si insuficiente para assegurar a sobrevivência da família. Por isso vemos tantas separações, divórcios, adultérios, famílias destroçadas, menores abandonados. Apoiado apenas no amor sensual o matrimônio tem pouca e temporária solidez porque a vida em comum é difícil, exige desprendimento, espírito desarmado, em suma amor ao próximo por amor de Deus, e, a afeição crescente e permanente é uma exigência da felicidade limitada que podemos ter aqui na Terra. A supremacia indevida atribuída ao amor sensual transparece com nitidez da cultura contemporânea, notadamente da arte musical ou da arte literária.

A supressão da barba pelos homens não seria também inconveniente, posto que foi Deus quem introduziu a barba na face dos indivíduos de sexo masculino? Entendo que num e noutro caso inexiste diretriz de valor universal, vale dizer obrigatória para todos. A raspagem da barba pelos homens também é facultativa, assim como o é a depilação vulvar para as mulheres. É obrigatória, porém, a exigência de consenso para os casados nas duas questões. Assim, se determinada mulher não se der bem com a barba do marido este deve eliminar a barba. Mas, se a mulher preferir o marido barbudo este deve ceder à exigência da consorte, mesmo que não goste de usar barba. O mesmo vale para as mulheres: se os respectivos maridos abominarem a depilação a mulher não poderá raspar-se, isto é, se o marido preferir sua mulher ao natural esta não deverá se depilar. Em síntese a regra suprema é da convivência amistosa proveniente do afeto e este, por sua vez, da virtude da caridade, vale dizer do amor de Deus.

Outro assunto delicado diz respeito às mulheres “mandonas”, tanto mais agora, quando a praga do feminismo passou a infestar a sociedade. Este mal é antiquíssimo, e, creio, provem desde os primórdios da Humanidade. Há bem pouco tempo li um texto de Santo Agostinho (ou de São João Crisóstomo, não lembro bem) no qual as “mandonas” foram acerbamente censuradas, o que, aliás, consta do Novo Testamento. O “mandonismo” feminino é perverso porque o homem – desafiado por mulher mandona – tende a reagir com violência, terreno em que tem óbvia vantagem, eclodindo conflitos por vezes de consequências fatais.

Vez por outra se ouve dizer que determinado marido “bate na mulher”, mas a causa das surras nunca, ou muito raramente, é mencionada. Afinal, o que ocorre entre quatro paredes tende a ser ocultado. Suponho, fundadamente, que muitas dessas surras decorrem de divergências na vida íntima, sobretudo pela prática de “greves” por parte das mulheres que se recusam ao débito conjugal. Realmente as recusas da mulher irritam sobremaneira o marido que, ou usa de violência, ou vai procurar alhures o afeto que deseja. Ademais, para além de irritar os maridos constituem, ao que sei é pecado mortal, salvo sérias justificativas. As desavenças se originam, também, muito frequentemente do alcoolismo, e, da infidelidade dos maridos, pois o farisaísmo imperante tende a “absolver” o homem por suas aventuras extraconjugais, mesmo quando não decorram do comportamento condenável da mulher. Conter a tendência poligâmica dos homens é medida salutar, pois a tendência da mulher é a monogamia.

As divergências político-ideológicas, ou as religiosas, tendem a se manifestar antes do casamento. Por isso, mesmo nesta época de “polarização”, se tem notícia de fatos envolvendo namorados ou noivos, mas não casais definitivamente constituídos, nos quais parece predominar a unanimidade de pensamento.

Se a sociedade, hoje, se acha convulsionada e abarrotada de criminosos, isso muito se deve ao desleixo, ignorância, preconceito e farisaísmo no cumprimento do dever de amor mútuo entre cônjuges. A família é o alicerce da sociedade. Se ela desmorona, o resto irá desmoronar. Daí a importância da religião como fator de agregação. E, de coerção…

Advirto os leitores que certos aspectos do assunto aqui abordados devem sê-los – observadas as diferenças de sexo – no âmbito de cada família, com objetividade, circunspeção, seriedade e respeito, para que não dê margem a abusos deformadores de consciências. Por isso mesmo é censurável a abordagem em sala de aula.

* O autor do texto é advogado,

[1] https://www.traditioninaction.org/Cultural/C077_Shav.htm

Jornal Nova Fronteira