O final do túnel: cenários pós-pandêmicos
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Aos sociólogos e no geral aos estudiosos dos fenômenos sociais, nesses últimos meses nos perguntaram frequentemente como será o mundo depois da pandemia.

*Fabio Claudio Tropea

Aos sociólogos e no geral aos estudiosos dos fenômenos sociais, nesses últimos meses nos perguntaram frequentemente como será o mundo depois da pandemia. A pergunta, evidentemente, é muito difícil de responder, menos ainda no curto espaço de um artigo. Nosso planeta é habitado por sociedades e civilizações muito diferentes e peculiares, o que provavelmente dará lugar a reações também diferenciadas. Porém, a mídia no mundo inteiro bombardeou durante já quase um ano os espectadores do planeta com o novo coronavírus, criando uma verdadeira cultura pandêmica de prudência, distanciamento e sobre tudo, medo. Se instalaram no mundo novas regras, hábitos, estilos de relações com os outros: familiares, amigos e conhecidos, de repente começaram a ser tratados como estranhos e perigosos portadores de vírus. Como não acontecia desde a Segunda Guerra Mundial, a crise sanitária uniu a comunidade internacional contra um inimigo comum. O planeta se paralisou. O que alguns meses atrás parecia um problema de saúde em uma remota cidade chinesa tornou-se uma crise inédita que teve, tem e terá o mundo em alarme. O Covid-19, um vírus pouco ou nada conhecido que preocupou com seu rápido contágio e ainda não tem tratamento seguro e eficaz, forçou todos os países a reagir rapidamente para evitar que a situação subisse e virasse uma grande tragédia humanitária. Em poucas semanas, as consequências foram palpáveis: transportes internacionais bloqueados, países isolados, milhares de eventos suspensos em todos os continentes. O que tinha que acabar em 2 ou 3 meses se transformou em um problema de enormes dimensões e longuíssima duração, e além sem horizonte de solução garantida, na espera coletiva de uma vacina rápida, segura e eficaz. A engrenagem social e econômica, típica do processo de globalização do século XX vacilou por conta de uma ameaça microscópica e invisível. O estilo de vida pandêmico também se começou a perceber como uma necessária normalidade, a pesar dos protestos e dos irônicos negacionismos. E a esfregação das mãos com álcool gel virou um gesto automático e ritual.
Qual então vai ser o cenário futuro, o pós-pandêmico, depois duma deflagração e instalação tão poderosa da pandemia? Existe já uma nutrida bibliografia de livros e artigos sobre este tema. Há divisão entre duas grandes tendências opostas e radicais. Alguns pensam que nas relações humanas se criará um antes e um depois da pandemia; que não houve acontecimento tão determinante neste século quanto a pandemia, e que as consequências das recentes ações políticas, sanitárias e econômicas ainda mal começaram a ser vislumbradas. Outros, vice-versa, dizem que a humanidade esquecerá em breve tempo essa crise pandêmica e voltará às formas de relações anteriores com grande rapidez, porque os valores humanos de contato e comunidade têm demais tradição para mudarmos facilmente a outros. Diziam os antigos romanos que no meio está a verdade, porém não vou a utilizar esse atalho, só posso afirmar aqui, com certa segurança, que o final da pandemia será celebrado com grande alegria e intensidade, como o final de um pesadelo inacabável. No fundo, isso é o que estão fazendo já muitas pessoas ao constatar que as restrições do isolamento foram reduzidas. Mas também gosto de pensar que o ser humano terá apreendido algo dessa trágica experiência: que a vida (a própria e aquela dos outros) é importante demais para jogá-la aos dados, para a satisfação de um desejo momentâneo e frívolo. A primeira coisa que temos que defender e celebrar é justamente ter constatado essa incrível oportunidade de existir que nos deram de presente.

*Semiólogo, escritor, palestrante e analista das linguagens da comunicação, graduado em Sociologia e Jornalismo em Urbino (Itália) e doutor em Comunicação na Universidade Autónoma de Barcelona, Espanha. Contato: fabioclaudiotropea@g.mail.com
Jornal Nova Fronteira