EATALY, SABERES E SABORES DA ITALIA*
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Itália, como tudo mundo sabe, teve um papel fundamental na evolução da culinária ocidental. Tudo começou com o comercio alimentar do Império Romano, que fez circular no amplíssimo território do império caravanas cheias de comida proveniente de Europa, África e Oriente médio. A maioria desses alimentos, diferentes e variados, viraram tradição na nossa cozinha.

*** Fabio Claudio Tropea

Itália, como tudo mundo sabe, teve um papel fundamental na evolução da culinária ocidental. Tudo começou com o comércio alimentar do Império Romano, que fez circular no amplíssimo território do império caravanas cheias de comida proveniente de Europa, África e Oriente médio. A maioria desses alimentos, diferentes e variados, viraram tradição na nossa cozinha.

Os italianos aprenderam a apreciar os sabores e os cheiros de uma culinária multiétnica e refinada que não é só massa e pizza e que varia muito de uma região a outra. Por exemplo, a pesar do que muitos pensam aqui, duas terceiras partes dos italianos nunca o quase nunca comeram polenta em sua vida. Logo, graças a três fatores, a culinária italiana hoje foi apreciada no mundo inteiro e foi capaz de influir na culinária dos países anfitriões: 1. A grande emigração italiana em quase todos os países do planeta, 2. A enorme importância que a comida tem na vida dos italianos e 3. Sua obsessão com a qualidade dos produtos.

No caso da culinária brasileira, os primeiros imigrantes italianos começaram a chegar no Brasil em 1870, com um pico entre 1880 e 1910. Os imigrantes italianos no Brasil importaram alguns grandes pratos, mas também misturaram os sabores e aromas da terra natal com os ingredientes oferecidos na nova terra que acolheu-os. E criaram novas iguarias: sardela, rondelli e filé a parmegiana são o típico cardápio do almoço dominical de uma família de imigrados italianos no Brasil, sobretudo de São Paulo para abaixo. O extraordinário e divertido do caso é que nenhum desses pratos existe na Itália, sendo receitas autenticamente brasileiras inspiradas nas tradições italianas. O caso dos rondelli é tal vez o mais emblemático. Degustado aqui como um dos pratos “italianos” mais típicos, na Itália é simplesmente desconhecido. Nós temos, evidentemente, massa recheada e massa enrolada, pero os rondelli são uma invenção pessoal e intransferível de um restaurante de São Paulo, cujo dono era, precisamente, Michele Rondelli, um sobrenome bem italiano!

A receita da sardella (com dois eles) é uma receita típica da Calabria, feita com um pequeno peixe de cor vermelha (salmonete), secado seis meses com sal e depois cozinhado com azeite de oliva, cebola roxa e suco de laranja. No Brasil, a sardela é feita com pimentão cebola, alho e sardinhas em conserva compradas prontas. Os imigrados italianos misturaram velhas tradições com novos ingredientes, povoaram terras virgens, criaram colônias, fundaram cidades, cultivaram café e trouxeram para Brasil uma ética do trabalho baseado na centralidade da família. Muitos brasileiros tem sobrenomes italianos e os brasileiros estão acostumados com o sotaque italiano. A relação entre o italiano e o brasileiro foi importante para ambos. O Brasil sempre teve seus braços abertos para os imigrantes e os imigrantes conseguiram sobreviver na nova casa e realizar o sonho: fazer a América. Juntos, eles ajudaram a tornar o Brasil uma grande nação. A macarronada ao “molho sugo” é um símbolo pequeno e poderoso da união entre o tomate americano e o macarrone italiano, com o manjericão verde, para lembrar o tricolor da velha pátria renovada.

*Eataly é um neologismo , uma jogo de palavras entre “eat” (comer em inglês) e “Italy”. Uma empresa italiana acaba de lançar com este nome um estabelecimento de degustação de culinárias regionais italianas em São Paulo, depois de ter aberto outros em Nova York e Tóquio.

**Saberes e sabores da Itália é o título de um curso de língua, cultura e gastronomia italiana que ministrei em Barreiras e outras cidades nos anos passados. Uma experiência magnífica que deixou um bom sabor de boca (literalmente!) e que muitos gostariam recuperar.

*** Semiólogo, escritor, palestrante e analista das linguagens da comunicação, graduado em Sociologia e Jornalismo em Urbino (Itália) e doutor em Comunicação na Universidade Autónoma de Barcelona, Espanha. Contato: fabioclaudiotropea@g.mail.com

Jornal Nova Fronteira