BOATOS, GUERRA CIVIL E FALSA DIREITA
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Segundo tais boatos o governo do PT estaria engendrando a adoção de medidas drásticas na direção de uma rápida e completa implantação do comunismo.

Ronaldo Ausone Lupinacci*

Interrompo a série de artigos que projetei sobre a poligamia pela necessidade de discorrer sobre outro assunto muito diferente, porém muito mais urgente.

Sobrecarregado por trabalhos profissionais nos últimos dois meses não pude acompanhar convenientemente o curso dos acontecimentos políticos. Foi possível, todavia, captar que o Brasil estava (e está) inundado por um oceano de boatos. Tais boatos giram em torno de reais ou imaginárias iniciativas do Governo Lula. Segundo tais boatos o governo do PT estaria engendrando a adoção de medidas drásticas na direção de uma rápida e completa implantação do comunismo. Confisco dos ativos financeiros, inclusive de cadernetas de poupança, supressão do direito de propriedade privada, eliminação do direito à herança, controle férreo das redes sociais, entre outras.

Admito mesmo que o governo pretenda se conduzir no sentido acima descrito. Mas, a imposição praticamente simultânea de tantas violências iria configurar um grave erro tático, porque tenderia a sobressaltar ainda mais a opinião pública já bastante receosa do que os governantes estão fazendo e dizendo. Porque, então, fomentar o boato?

O boato desconcerta as mentes que tendem ora a uma exaltação excessiva, ora a uma passividade inexplicável. Gera dúvida e confusão predispondo suas vítimas a tomada de atitudes erradas, por vezes desastrosas.

Ora a adoção de alguma medida mais ousada por parte do governo (comunista) resultará em provocação à maioria silenciosa da qual brotarão focos de sedição. E é bem isso o que o comunismo almeja como pretexto para impor uma ditadura férrea. Os focos de sedição, isolados, desorientados, tenderão a ser esmagados, e teremos, assim, um comunismo ao gosto de Stalin e de José Dirceu. O comunismo usará aí um argumento decisivo: os insurretos estarão atacando a “democracia”.

Caso estes focos assumam força suficiente para colocar em risco o governo comunista, este recorrerá a seus aliados estrangeiros, tanto àqueles dispostos a enviar reforços militares, como aqueles que se limitarão ao apoio político-midiático e financeiro, como os Estados Unidos de Biden e a França de Macron. Obterão os comunistas com esta estratégia uma vitória definitiva e completa?

Penso que não. Irão impor ao País uma longa cadeia de calamidades, a começar pela miséria e pela fome. Mas nada garante que se sairá vencedor ao final. O Brasil já se revelou para o comunismo um campo minado, composto de cidadãos pacatos, mas resolutos, e sobretudo formados na fé cristã.

É possível conjeturar, portanto, que os fatos tenderão a um desfecho simétrico ao ocorrido na Espanha, no período de 1931-1939. Os comunistas se alçaram ao poder em 1931 e, pelo menos até 1936 se lançaram a toda a sorte de violências. Entretanto, em 1936 estourou a guerra civil, na qual ao cabo de três anos o comunismo foi derrotado. O preço a pagar pelo povo espanhol foi imenso porque as agruras perduraram até bem depois de 1936, com a perseguição internacional encabeçada pelos “democratas”. Mas, ao final o comunismo foi banido, ao menos superficialmente. E, por qual motivo eu disse “superficialmente”? Apesar de vencido o comunismo guardava um trunfo oculto: a falsa direita representada por Francisco Franco Y Bahamonde. E, outro trunfo ainda mais escondido e mais perigoso: os eclesiásticos traidores, cujo principal líder foi o Cardeal Tarancon. Franco e eclesiásticos trabalharam astutamente para repor a esquerda no poder, o que ficou claro com a ascensão dos socialistas capitaneados por Felipe Gonzalez. Houve neste processo histórico espanhol semelhanças com o ocorrido no Brasil a partir de 1964. A falsa direita que governou o Brasil de 1964 até 1983 usou os estratagemas disponíveis para relançar a esquerda com a Nova República, com um breve período de retorno da falsa direita com Collor. Daí em diante a esquerda predominou, até nova volta da falsa direita com Bolsonaro.

E qual o motivo que me levou a discorrer sobre a Espanha e o Brasil? Para extrair uma lição: só uma limpeza completa, não algo tipo “meia-sola”, poderá reconduzir o Brasil ao caminho reto. A limpeza completa significa a eliminação do comunismo, e, de sua aliada a corrupção ideológica e financeira.

Por ora precisamos acompanhar o curso dos fatos para medir até que ponto se encaixarão no cenário acima descrito. Vigilância para saber como e quando se desencadeará a tempestade, e, o que fazer a partir de então.

Eu me abstive de especular acerca de uma insurreição popular anticomunista de imediato. Não me parece possível, exceto se os quartéis começarem a se movimentar, e, assim dar esperanças à população civil. Insurreição popular eficaz subentende simultaneidade (o que depende de organização a nível nacional) e implacabilidade, condições ainda ausentes das cogitações do povo.

* O autor é advogado e pecuarista
Jornal Nova Fronteira