Populismo, Teoria da Conspiração, Xenofobia e outras atualidades
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Todas as épocas históricas – mais até, todos os momentos históricos – apresentam algumas características próprias, inerentes ao dinamismo da sociedade, em constante movimento. Entretanto, se examinados em profundidade, os vários períodos históricos refletem semelhanças com acontecimentos anteriores. A sociedade contemporânea não foge à regra, conquanto se atribua o qualificativo de “moderna” para diferenciar tudo aquilo que é atual, por oposição ao que é antigo.

Ronaldo Ausone Lupinacci*

Todas as épocas históricas – mais até, todos os momentos históricos – apresentam algumas características próprias, inerentes ao dinamismo da sociedade, em constante movimento. Entretanto, se examinados em profundidade, os vários períodos históricos refletem semelhanças com acontecimentos anteriores. A sociedade contemporânea não foge à regra, conquanto se atribua o qualificativo de “moderna” para diferenciar tudo aquilo que é atual, por oposição ao que é antigo. Se examinarmos os fatos com atenção e acuidade, veremos, entretanto, que o “moderno” não é, assim, tão moderno. Afinal o ser humano continua o mesmo desde os tempos de Adão e Eva, conquanto se tenham alterado as condições externas de existência. São modernos o divórcio, o nudismo, o aborto, o homossexualismo, a demagogia, e outras distorções, para usar um adjetivo bem ameno?

Vem ocupando os olhares de analistas da opinião pública o surgimento de novidades no panorama contemporâneo, novidades que, para muitos, se mostram desconcertantes. Pessoas existem, e não são poucas, que tendem a prospectar o futuro somente com os dados do presente, sem se reportar ao passado, e, sem, também extrair dos fatos presentes as suas últimas consequências. E, nesse contexto eclodem preocupações acerca de certos fenômenos psicossociais, que os tais analistas reputam inesperados e, em geral, consideram desastrosos.  Um deles diz respeito ao denominado “populismo”, palavra empregada como sinônima de demagogia.

Como sintomas de renascimento do populismo aparece na primeira fila de atualidades a eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos, ao lado da ascensão de outros líderes políticos assemelhados, em especial da francesa Marine Le Pen. Estes seriam exemplos do crescimento do populismo de “direita”, assim como Fidel Castro, Lula e Hugo Chavez representaram o populismo de “esquerda”, ora em declínio acentuado. Percebe-se existir certa animosidade, mais implícita ou muda, do que explícita, dos aludidos analistas em relação ao populismo, sobretudo o de “direita”, ou melhor, de falsa direita, como se tratasse de desvirtuamento do ideário liberal-democrático cujas raízes remontam ao final do século XVIII. Ao mesmo tempo, exultam com a expansão em série das repúblicas e a derrubada das monarquias, que haviam governado a sociedade ocidental durante quase dois milênios.

De minha parte reputo o populismo, que também equiparo à demagogia, consequência lógica e, por assim dizer necessária, ou orgânica (melhor seria dizer inorgânica…), do ambiente de falsidades e desvios ideológicos advindos daquele mesmo período histórico, que marcou a difusão dos princípios da Revolução Francesa de 1789. Foram aqueles desvios impostos por hábil e contínua propaganda como dogmas incontestáveis, aptos a conduzir à fogueira todos os “hereges” que os repelissem. Por exemplo, o “dogma” do sufrágio universal, inscrito, por sinal em nossa Constituição, pelo qual todos, quase sem exceção, têm direito ao voto, em todos os níveis eleitorais, isto é, desde vereador até presidente de república. É evidente que o erro de tais concepções, e, a artificialidade que geraram iria, mais dia, menos dia, provocar desastres. Estes não tardaram a aparecer – e a eleição de Hitler, entre outros fatos, o comprova – mas, perdurou o estigma para quem rejeitasse aquele “dogma” e outros correlatos, proclamados pelo “Establishment”¹.

Mas, como dizem os sábios, a História se repete. Assim, poderemos melhor entender o ressurgimento do populismo analisando o ocorrido na primeira metade do século passado. O terremoto causado na sociedade ocidental pela difusão das ideias e das instituições provindas da França revolucionária provocou reações em grande escala. Tais reações não tiveram dirigentes que as soubessem discernir e coordenar. Os próprios revolucionários, então, forjaram falsas filosofias e falsas lideranças que desembocaram no nazismo, no fascismo, no “getulismo” (e seu companheiro temporário, o integralismo), tantos outros “ismos”, mundo afora.  Lenin já havia orientado: façamos nós o anticomunismo, antes que outros o façam. Hoje, algo semelhante parece estar ocorrendo. O desencanto da sociedade ocidental com a falsa democracia a ela imposta – muito mais pela propaganda mentirosa do que pela coação ou pela persuasão racional – passou a despertar contrariedades. E, a mesma falta de lideranças autênticas aptas a compreender a situação e a coordenar as ações se evidencia. Temos aí o cenário perfeito para a ressurreição do populismo fabricado ou, senão, certamente impulsionado, para transviar incautos.

Adesão à teoria da conspiração? Esta consiste em outro anátema dirigido àqueles que não se deixam enganar pelas urdiduras do submundo político-ideológico. Mas, como o número dos estultos é infinito, segundo dizem as Sagradas Escrituras, o “Establishment” procura confundir duas coisas perfeitamente distintas: a reação da opinião pública e as lideranças que dela se aproveitam, como se estivessem, ambas, irmanadas pelos mesmos objetivos. Sobre a referida teoria, acerca da qual não vou me estender, lembro apenas a advertência da escritora Suzanne Labin: a primeira e principal condição de êxito de uma conspiração reside em desacreditar aqueles que a denunciam. Por isso as tubas da propaganda tudo fazem para atingir os que combatem as miniconspirações e a máxiconspiração que as articula. Atualmente, no Brasil, fica difícil, aliás, negar a existência de miniconspirações tais como foram o “Mensalão”, o “Petrolão”, e, agora as tramas para implodir a Operação Lava-Jato. Mas, ainda é possível injetar doses colossais de desinformação na opinião pública, para evitar que se façam as conexões mentais entre as miniconspirações e a máxiconspiração.

Outro assunto na ordem do dia diz respeito às alegadas tendências xenofóbicas crescentes na Europa e nos Estados Unidos a propósito da invasão muçulmana de refugiados e não refugiados. Increpam-se parcelas daquelas populações por se oporem à ocupação de seus países por estrangeiros, quando se trata de aversão tão natural e tão compreensível como a de quem não quer ver estranhos entrando em sua própria casa. De si, a aversão a estrangeiros só por serem estrangeiros não se justifica, mormente dentro do pensamento católico, posto que católico signifique universal, e universal é a Igreja fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo para abrigar todos os povos, de todos os grupos étnicos. Acontece, porém que os deslocamentos de africanos e asiáticos de religião muçulmana – e cuja cultura e costumes se vinculam àquela falsa crença religiosa – vêm causando perturbações graves na vida dos países europeus, sem falar que constituem ambientes propícios à penetração de terroristas. Ademais, tais incursões estão recebendo o apoio declarado de governos adeptos do relativismo filosófico-moral com o objetivo não confessado de descaracterizar em definitivo os últimos vestígios de cristianismo existentes no mundo ocidental, e, impedir aquilo que seria uma volta ao passado. Neste contexto se insere a interferência de Barack Obama na guerra civil da Síria, que só serviu para prolongar e agravar o conflito, sob o falso pretexto de combater uma ditadura. Se fosse sincero o desapreço de Obama em relação às ditaduras, teria ele confrontado uma que se achava bem diante de seu nariz, para a qual, todavia procurou assegurar sobrevivência e apoios internacionais. Refiro-me, obviamente, a Cuba. Aliás, circulam rumores de que também o Brasil irá entrar na onda de “proteção” a refugiados, apesar de nossa triste situação econômico-social, assinalada pelo nível de desemprego sem precedentes.

No bombardeio midiático dirigido ao neoconservadorismo progressivamente saliente no Ocidente se incluem os ataques frequentes à homofobia, como se tratasse de um desvio de conduta. Ora, a natureza, de si mesma é “homofóbica”, pois segundo a Bíblia, Deus criou os sexos, criou os machos e fêmeas, e assim somos nós humanos. Para imprimir um mínimo de falsa racionalidade ao homossexualismo fabricou-se a ideologia de gênero, que reputo a maior expressão de estupidez do pensamento em todos os tempos. Os alcunhados “homofóbicos” juntamente com os xenofóbicos são diariamente execrados pela porta-voz da maxiconspiração, isto é, a grande mídia. Por isso ela joga pedras nos pretensos líderes do neoconservadorismo tais como Trump e Le Pen, visando não propriamente atingi-los, mas sim os eleitorados daqueles políticos que, iludidos, lamentavelmente confiam em lideranças plantadas. Exemplificando: Trump tomou medida suficiente para acender a ira dos abortistas ao retirar o financiamento publico que beneficiava entidades tais como a Planned Parenthood, que vendia fetos humanos, e esse é um dos motivos pelo qual é continuamente hostilizado no noticiário, às vezes com razão, às vezes sem razão. Os desvarios do século XX caracterizados principalmente pelo comunismo, pelo nazismo, pelo fascismo (e suas respectivas variantes), e, pela contrafação da democracia, pela derrocada moral, todos eles fruto do espírito, das doutrinas e da mentalidade revolucionários levaram o mundo ao conflito de 1938-1945. O que resultará dos desvarios deste início de milênio?

* O autor é advogado e pecuarista.

¹Palavra inglesa que designa o conjunto de forças (políticas, econômicas, ideológicas) que dirige uma cidade, região ou país usada no Brasil frequentemente porque seu equivalente em vernáculo (“sistema”) comporta várias outras acepções.

Jornal Nova Fronteira