PARA ONDE FOR O BRASIL…
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Temos vivido anos conturbados no plano nacional e no plano internacional. Neste último sobressaem várias guerras civis, o terrorismo muçulmano, os desequilíbrios econômicos, mas, em contraposição

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Ronaldo Ausone Lupinacci*

Temos vivido anos conturbados no plano nacional e no plano internacional. Neste último sobressaem  várias guerras civis, o terrorismo muçulmano, os desequilíbrios econômicos, mas, em contraposição, avoluma-se um fenômeno análogo ao que se observa no Brasil, qual seja o da revitalização dos setores sadios da opinião pública, que ocorre principalmente na França e nos Estados Unidos.

Com efeito, em nosso plano interno verificamos a deterioração progressiva do Estado, com múltiplas e danosas consequências fomentadoras do caos, mas, ao mesmo tempo, o surgimento de tendência alvissareira e dinâmica na sociedade civil, que começa a se movimentar em sentido diametralmente oposto às metas dos detentores do poder.

Como em outras épocas, temos sofrido a influência externa sem, contudo, influir nos acontecimentos internacionais. Entretanto, este quadro muito provavelmente irá se inverter em futuro não distante. Poderá, então, o Brasil agir sobre o destino do mundo? Tem poder de liderança, e, caso afirmativo, qual o alcance de tal liderança?

Os protestos que se iniciaram em junho de 2013 – mantiveram-se em 2014, embora restritos à realização da Copa do Mundo – voltaram a se intensificar em 2015, e permitem discernir o sentimento de desagrado geral da opinião pública com o atual estado de coisas. Trata-se de descontentamento difuso e multifacetado, com alguns alvos mais nítidos e outros menos nítidos. Em última análise, ganhou corpo na sociedade brasileira um forte ímpeto de luta pela paz (concebida como tranquilidade na ordem por Santo Agostinho) e pela prosperidade, e que, por sinal, se acha incorporado em nossa bandeira pelo lema “ordem e progresso”. A paulatina eliminação do clima de indiferença e abulia vem sendo expressa no noticiário pelas palavras “radicalização”, “politização” e “polarização”, a fim de designar a mutação emergente na opinião pública. Dessa mutação decorre a reação crescente a tudo aquilo que perturba a paz e impede a prosperidade. Em termos mais concretos significa a intolerância em relação à criminalidade, ao induzimento de conflitos classistas e raciais, à deficiência dos serviços públicos, à tributação extorsiva, aos juros usurários, à corrupção, à erosão do poder de compra da moeda, à política externa esquerdizante, à asfixia do direito de propriedade e de seu corolário, a livre iniciativa e, no plano religioso e moral, às investidas contra nossas convicções e tradições cristãs.

Em síntese, percebe-se o fortalecimento do conservadorismo, registrado quase unanimemente pelos analistas, inclusive aqueles que lhe são visceralmente contrários. A propósito, Sérgio Malbergier em artigo publicado na “Folha de S. Paulo”, extraindo consequências das recentes pesquisas de opinião afirma: “O Datafolha mostra o consistente apoio das massas a valores conservadores e sua posição à direita da prática política nacional dos últimos 20 anos” (“Recuo do PT abre avenida para a direita”, 02/04/2015). No mesmo texto Malbergier inseriu comentário sinalizador: “Vários partidos políticos já estão de olho nesse movimento”. De fato, foi possível constatar uma mudança, ou pelo menos um início de mudança no comportamento do Congresso Nacional, pois logo no principiar da atual legislatura foi revogado o decreto criador dos conselhos populares, de notória inspiração comunista, ao lado de outras atitudes e pronunciamentos contrários ao novo governo de Dilma Roussef, fruto de manifesto estelionato eleitoral.

Esta constatação nos abre uma auspiciosa perspectiva, mas convém explicar o motivo, pois nunca é destacado pela mídia. O político profissional – e esta é a categoria que predomina nos órgãos diretivos da Nação – sobrevive em sua atividade à custa dos votos. Por esse motivo, as forças midiáticas esquerdistas se empenharam, durante décadas a fio, em criar para os políticos, mediante intensa propaganda, a falsa impressão de que as massas propendiam para a esquerda. Tais políticos profissionais, carentes de convicções, movidos apenas por interesses pessoais, se engajaram, assim, majoritariamente nos programas socializantes, e na demagogia que lhes é inerente. Percebendo, agora, que isso não corresponde à realidade, ficarão mais receptivos a ouvir a genuína voz do povo. Se a pressão popular persistir, conforme a sua amplitude, passarão a dar outra direção ao seu comportamento, mormente quando se convencerem de que, em assim não agindo, acabarão sendo proscritos da vida pública pelo voto, que então lhes será categoricamente negado. O futuro dependerá, portanto, da coerência da voz das ruas e da intensidade com que for divulgada. Como disse o repórter William Waack no último programa “Painel”, da Globo News, “tudo está em nossas mãos”.

Algo semelhante se passou há algumas poucas décadas atrás nos Estados Unidos. O movimento revolucionário avançara muito, depois da propagação das ideias igualitárias e permissivistas das explosões anarquistas de 1966-1968, e, conseguiu levar ao poder o presidente Jimmy Carter com sua demagógica política de “direitos humanos”. As nefastas consequências deste erro dos norte-americanos fê-los despertar do torpor, com o que surgiu lá um movimento formado por variados setores conservadores, e que ficou conhecido como Nova Direita. Esta Nova Direita se articulou e se movimentou para derrotar os socialistas do Partido Democrata (lá designados por liberais), e, assim Reagan foi eleito presidente. Iniciou-se um ciclo de renascimento do poder e da influência dos Estados Unidos, que, aos trancos e barrancos, subsiste até hoje, apesar das derrapadas do próprio Reagan e de seus sucessores. Na França a oposição cívica vem sendo a responsável pelas sucessivas e acachapantes derrotas do Partido Socialista, como ocorreu nas últimas eleições, e promete se repetir nas próximas, apesar da indigência moral das demais agremiações partidárias.

Acontece que para mover os políticos na direção que desejamos precisamos definir um caminho, que compreende, antes de tudo, a formulação de ideário, com o máximo consenso possível ao menos sobre um mínimo de pontos básicos, nos âmbitos político, econômico, social. A composição deste ideário supõe a existência de lideranças autênticas (com o que excluo as postiças), que saibam auscultar os legítimos anseios da população e transformá-los em bandeiras de luta. E, também, de lideranças que saibam articular o movimento de oposição cívica com providências práticas, sobre as quais aqui não irei discorrer por falta de espaço, lembrando, apenas, que a Nova Direita norte-americana elaborou um método eficaz de pressão e persuasão, o que vêm fazendo, também, a seu modo, os conservadores franceses.

Muitos poderão objetar que os políticos não merecem confiança, pelo que se revela ingênua a tentativa de mudar as coisas através do concurso deles. Concordo em que, de um modo geral não merecem nenhuma confiança, mas, se a eles se apresentar o risco provável para a sobrevivência, não terão outra opção senão  de se submeter à pressão popular. Listas negras produzem efeitos devastadores. Ademais, não há caminho alternativo, salvo os da insurreição, ou do golpe de estado, melindrosos por natureza, e desaconselháveis nas circunstâncias presentes.

A via institucional da pressão e do voto, portanto, embora árdua, e, de demorada maturação, é a que se mostra indicada no momento. Afinal, há um alto preço a pagar por anos de inércia e de negligência. Por isso não me parece que o impeachment da presidente Dilma, por si só, venha a trazer grandes benefícios. Teria a vantagem de reduzir o poder do PT, mas entregaria o mando ao seu sócio e cúmplice, o PMDB, e a seus respectivos aliados mal cheirosos como o PP.

Para exemplificar acerca do ideário, tomo o tema da reforma política, ora em debate, e que representa a condição para a consecução de objetivos em algumas outras áreas.  Para começar o saneamento da estrutura política deveremos lutar pela extinção do voto obrigatório, pelo fim da ditadura partidária (de modo a permitir candidaturas avulsas ou independentes), pelo voto distrital, pelo fim da reeleição, pela limitação de gastos com publicidade, pela eliminação do quociente eleitoral, e, ainda mais audaciosamente, pela substituição do presidencialismo de coalização – sempre propenso a negociatas sórdidas – pelo parlamentarismo. Seria apenas o início, mas nada se faz sem passar pelo início. Outros assuntos de diferentes esferas teriam lugar no ideário, tais como a revitalização do direito de propriedade e da livre iniciativa, extinção do intervencionismo e do dirigismo estatais, fim da extorsão fiscal e da usura bancária. É hora de colocar a cabeça para pensar, e, arregaçar as mangas para trabalhar, na certeza de que, mais dia menos dia, chegaremos aos nossos objetivos.

E, neste ponto, retorno à questão suscitada no preâmbulo destas linhas: quando atingirmos nossas metas, daremos notável estímulo aos irmãos sul-americanos, para por fim à hegemonia esquerdista em nosso continente. Pois, já disse alguém, cujo nome não me lembro: para onde for o Brasil, para lá irá a América Latina.

* O autor é advogado e pecuarista.

Jornal Nova Fronteira