OS AMIGOS DO CARRASCOCRATA
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Juan Reinaldo Sanchez foi durante 17 anos membro destacado da segurança pessoal de Fidel Castro, chegando ao posto máximo de tenente coronel daquela milícia encarregada de proteger o tirano(1). Decepcionado, em especial porque constatou que Fidel era o chefe da organização cubana que explorava o narcotráfico, decidiu afastar-se de sua função.

Ronaldo Ausone Lupinacci*

Juan Reinaldo Sanchez foi durante 17 anos membro destacado da segurança pessoal de Fidel Castro, chegando ao posto máximo de tenente coronel daquela milícia encarregada de proteger o tirano(1). Decepcionado, em especial porque constatou que Fidel era o chefe da organização cubana que explorava o narcotráfico, decidiu afastar-se de sua função. Assim agiu Sanchez, sobretudo, porque – para salvar sua face perante a comunidade internacional – o ditador havia montado um processo fraudulento para incriminar subordinados. Projeto este que concretizou, via fuzilamento – inclusive do general Arnaldo Uchoa, o mais importante militar cubano – pelo crime cujo principal mentor era ele, o próprio Fidel. Indignado com as felonias de Fidel, Sanchez escreveu um livro de memórias em que relata fatos relevantes sobre o ditador caribenho e o comunismo cubano (“A Vida Secreta de Fidel”, Editora Schwarcz).

Sanchez, diante do desencanto com o regime, pedira aposentadoria, gerando desconfianças e perseguições que culminaram em seu encarceramento, tortura e tentativa de assassinato através de tratamento “médico”, que o levaria a sofrer acidente vascular cerebral. Libertado, em face da impossibilidade jurídica de ser condenado por qualquer delito, dissimulou o quanto lhe foi possível o plano de sair de Cuba, o que conseguiu após oito anos de espera, e, de várias tentativas frustradas.

A aludida biografia de Fidel relata episódios reveladores de sua personalidade, desde sua infância e juventude, como falsificador (dos boletins escolares) e caloteiro (não pagava aluguéis), chegando ao seu envolvimento com as forças subversivas que implantaram o comunismo em Cuba. O livro de Sanchez descreve aspectos da nababesca vida pessoal do ditador, por exemplo, suas propriedades privativas, como a ilha paradisíaca de Cayo Piedra, o iate Aquarama II, suas mansões, seus momentos de lazer na prática de pesca submarina, suas mulheres “fixas” e “avulsas”, mordomias, trapaças financeiras, e muita coisa mais. Porém, o mais importante reside no apoio à subversão comunista (principalmente no Chile, Angola, Nicarágua), para o que Cuba construiu um centro de formação de guerrilheiros e terroristas (em Punto Cerro de Guanabo).  Interessa ressaltar que à época da chegada dos irmãos Raul e Fidel Castro ao poder, Cuba, Venezuela e Argentina eram os países em melhores condições sociais e econômicas na América Latina, de onde despencaram na medida em que neles penetrou, em graus variáveis, o veneno socialista.

Outro trabalho, este de pesquisa histórica, realizado por Pascal Fontaine (em “O Livro Negro do Comunismo”) relata aspectos mais macabros da ditadura comunista imposta à infeliz Cuba. Logo que alcançaram o poder os revolucionários promoveram execuções em massa (no famoso “Paredon”), prisões políticas, reforma agrária imposta a ferro e fogo, e, posteriormente, repressão aos operários, trabalhos forçados, privação da liberdade de opinião e manifestação, instituindo um sistema de espionagem e delações. Não espantam, portanto as milhares de fugas de cubanos, em diversos períodos. Tão opressivas eram (e continuam em boa parte) as regras de vida em Cuba que muitos fugiram em precárias balsas (daí no nome “balseros”), mesmo se arriscando a serem bombardeados por sacos de areia lançados de aviões a mando dos Castro, e, a perecer por afogamento ou ataque dos tubarões que infestam aqueles mares. Aliás, delações, vigilância policialesca, prisões, torturas, Judiciário instrumentalizado, campos de trabalhos forçados, prisioneiros políticos, fuzilamentos, deportações forçadas, escravidão (pela supressão do direito de propriedade e da livre iniciativa) são medidas habituais das ditaduras comunistas. Tudo para implantar um ambiente de terror, de opressão odiosa até dentro da intimidade das consciências.

Ciente de todo o seu perverso currículo Fidel Castro previu que, depois de morto, iria para o inferno, juntar-se a outros líderes comunistas. Assim o declarou em entrevista transcrita pela revista Paris Match: “Eu irei para o inferno, e sei que o calor ali será insuportável… E lá chegando, encontrarei Marx, Engels, Lênin”. Tudo indica que acertou na previsão…

Também afirmou – em discurso na Universidade de Havana – serem contraproducentes as perseguições aos cristãos (o que só percebeu depois de verificar os êxitos da esquerda que se diz católica, mas que teria constatado antes caso tivesse lido o texto de Gramsci sobre o pseudocatolicismo “democrático”): “Não cairemos no erro histórico de semear a estrada de mártires cristãos, pois bem sabemos que foi precisamente o martírio o que deu força à Igreja. Nós faremos apóstatas, milhares de apóstatas.” Castro, portanto, moldou-se pelo figurino desenhado por Sergey Netchayev em seu trabalho intitulado “Catecismo Revolucionário”(2).

Apesar de tantos horrores Fidel Castro teve e tem uma vasta rede de admiradores no mundo e no Brasil. Em sua visita para a posse de Fernando Collor (1990) ficou incontestavelmente documentado o estrondoso sucesso junto a políticos, inclusive da (falsa) direita, à mídia (a exemplo das TVs Bandeirantes e Cultura que lhe deram espaço para suas arengas), a artistas e intelectuais. Lula, Erundina, Suplicy, Moreira Franco (que seria o “Gato Angorá”, na lista de propinas da Odebrecht); os falecidos Ulisses Guimarães (articulador da atual Constituição…) e Leonel Brisola o prestigiaram ostensivamente. Manteve reunião a sós com Roberto Marinho, presidente das Organizações Globo, e almoço com empresários da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIERJ). Efetuou visita à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e saudou os membros das Comunidades Eclesiais de Base da Igreja Católica, que seriam equivalentes ao Partido Comunista Cubano. Aconselhou a Igreja brasileira influenciar Igreja de Cuba, obviamente para que os clérigos cubanos recalcitrantes passassem a apoiar o regime criminoso.

Fidel fez vários amigos no Brasil. O principal deles foi o recentemente falecido Cardeal Arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, que lhe enviou carta publicada no jornal oficial de Cuba (“Granma”), saudando-o quando do 30.º aniversário da Revolução Cubana(3). Na mesma carta Dom Arns aludiu a outro grande amigo de Fidel, o conhecido frei Beto, cúmplice do terrorista Carlos Marighela(4). Aliás, Dom Paulo incitou brasileiros a ir à Nicarágua aprender fazer revolução na mesma época em que Fidel enviava armas aos guerrilheiros sandinistas. Inclui-se no círculo de amigos brasileiros de Fidel o ex-frade Leonardo Boff, por igual comunista.

Agora, durante seus funerais foi novamente homenageado: “No Brasil, o presidente Michel Temer declarou que Fidel foi ‘um líder de convicções’ e que ele ‘marcou a segunda metade do século XX com a defesa firme das ideias em que acreditava’. O Papa Francisco, sumo pontífice da Igreja Católica, disse que a morte de Fidel Castro é uma notícia triste e ofereceu orações por ele. O prefeito de Salvador ACM Neto lembrou do contato de Fidel Castro com o seu avô, o ex-governador da Bahia, Antônio Carlos Magalhães. ‘Apesar das diferenças ideológicas, Fidel Castro e ACM se respeitavam muito”(5). Obviamente, neste seleto círculo de amigos não poderiam faltar Lula e Dilma. Lula foi sempre um entusiasta do regime cubano e Dilma, por ocasião do óbito do tirano expressou seu pesar: “A ex-presidente da República Dilma Rousseff afirmou, por meio de nota na internet, que a morte de Fidel é ‘motivo de luto e dor’. Para ela, Fidel ‘foi uma das mais influentes expressões políticas do século 20’ e ‘visionário que acreditou na construção de uma sociedade fraterna e justa, sem fome nem exploração, numa América Latina unida e forte”(6). Por falta de espaço, deixo de comentar as visitas dos Papas João Paulo II, Bento XVI e Francisco a Cuba…

Um provérbio português ensina: “diga-me com quem andas e te direi quem és”. Transponho a mesma ideia com outra formulação: “diz-me quem admiras e te direi quem és”. Os amigos e admiradores de Fidel Castro contribuem poderosamente para que perdure a tirania comunista em Cuba, agora sob a máscara de uma suposta “liberalização”. E, provavelmente gostariam de um sistema semelhante, talvez semicomunista e semicapitalista (para ao final desembocar no comunismo) no mundo inteiro.

Youri Martov, político russo, logo após a revolução de 1917 cunhou a palavra carrascocracia (governo de carrascos), para designar a quadrilha de Lenin e seus asseclas. Ela, ao que me consta, não existe em nosso linguajar, até porque aqui no Brasil impera outro tipo de classe dirigente: a cleptocracia (governo de ladrões). Mas, “carrascocracia” e “carrascocrata” se aplicam perfeitamente aos dirigentes cubanos. Passo a palavra a seus defensores.

*O Autor é advogado e pecuarista.

(1)https://noticias.terra.com.br/mundo/america-latina/morre-em-miami-juan-reinaldo-sanchez-ex-guarda-costas-de-fidel-castro,5f2dbe672a3a03e897dd2576e69113de0h9xRCRD.html
(2)https://pt.wikipedia.org/wiki/Sergey_Nechayev
(3)http://radiovox.org/2016/12/12/a-amizade-de-dois-comunistas-paulo-evaristo-arns-e-fidel-castro/
(4)http://amaivos.uol.com.br/amaivos2015/?pg=noticias&cod_canal=38&cod_noticia=8743
(5)http://g1.globo.com/mundo/noticia/fidel-castro-veja-a-repercussao-da-morte-do-ex-presidente-cubano.ghtml
(6)Idem.

Jornal Nova Fronteira