O PEQUENO IMPERADOR
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Conheci, em São Paulo, um imperador. Não descendente de D. Pedro II, e muito menos possuidor do carácter e bondade da Princesa Isabel. Era "imperador", porque impunha sua vontade: pais, avós, faxineiras e diaristas, tinham que fazer o que ele queria.

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HUMBERTO PINHO DA SILVA – Porto, Portugal

Conheci, em São Paulo, um imperador. Não descendente de D. Pedro II, e muito menos possuidor do carácter e bondade da Princesa Isabel. Era “imperador”, porque impunha sua vontade: pais, avós, faxineiras e diaristas, tinham que fazer o que ele queria.

Saídas a pé ou de automóvel; viagens e férias; passeios ao parque ou a centros comerciais, era ele que determinava.

Se alguém se opunha. Se alguém lhe negava o capricho, era certo: a birrinha, a choradeira, a gritaria; o berreiro infernal.

Para o calar, não havia outro remédio, senão fazer-lhe a vontade.

O menino cresceu. Tornou-se mocinho. Tratava as empregadas com desdém; e se levavam – por necessidade ou recreio, – os filhos, molestava-os. Pouco faltava para se tornar num Braz Cuba.

Certo dia de Outono, cheio de sol encontrei-o na Vila Madalena, na companhia da avó. Teria, nessa época, cerca de oito anos. Não mais.

A senhora, após os cumprimentos habituais, disse-me ter desviado o caminho usual, porque o menino exigia que comprasse, sorvete, que se vendia em Pinheiros. Fazia-lhe diferença… mas que havia de fazer? O menino não se calava…

A educação moderna, que condena o corretivo da palmada, aliada à impossibilidade de muitos pais educarem as crianças, fabricou os “imperadores”.

Grande parte das crianças não recebe educação em casa, nem na escola, já que esta está vocacionada para o ensino. O professor, quando procura transmitir regras de civilidade, – muitos não têm autoridade moral para serem educadores, – receia ser desfeiteado pelos alunos; ou os pais censurarem-no, por fazer o que devia ser feito.

Nesta sociedade consumista, em que vivemos, quem reina, é o dinheiro: – Tudo se compra; tudo se vende.

Os jovens são educados pela TV, e pela telenovela – cujos enredos, em regra, são vergonhosos, e servem para corromper, ainda mais, a juventude, e até os adultos, porque ninguém se encontra imune aos torpes guiões.

A falta de autoridade. A violência desvairada, que grassa nas cidades, e até no meio rural, não dá sossego a ninguém.

É o resultado da perda de conceitos morais, assentes no Evangelho – os jovens, hoje, desconhecem, quase por completo, Jesus, e Sua doutrina, – por isso, tornaram-se crianças violentas e arrogantes.

Se não se arrepiar caminho, em breve, as nossas cidades, transformar-se-ão em Gomorras, onde o vício impera, e com ele: o prazer e o dinheiro.

Jornal Nova Fronteira