O DINHEIRO TRAZ FELICIDADE?
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Há muitos e muitos anos, tantos que já se perdeu a conta, nas proximidades das margens do mar Egeu, havia rei orgulhoso, senhor de riquezas sem fim, resultante da venda de pepitas de oiro do Pactolo, afluente do Hermo, rio onde se banhava o infeliz Midas.

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HUMBERTO PINHO DA SILVA – Porto, Portugal

Há muitos e muitos anos, tantos que já se perdeu a conta, nas proximidades das margens do mar Egeu, havia rei orgulhoso, senhor de riquezas sem fim, resultante da venda de pepitas de oiro do Pactolo, afluente do Hermo, rio onde se banhava o infeliz Midas.

Residia em maravilhoso palácio, belamente decorado de luxuosas alfaias de incalculável valor; e em rijas arcas de ferro encerrava fabuloso tesouro, mais rico que a caverna de Ali-Babá.

Certa ocasião recebeu a visita de Sólon – narra Plutarco na “Vida de Sólon”.

Creso, assim se chamava o rei orgulhoso, rejubilou de contentamento e saudou a feliz oportunidade para deslumbra-lo, mostrando-lhe toda a magnífica riqueza que encerrara nos sólidos cofres reais.

Concluída a longa e pormenorizada visita, interroga-o envaidecido:

– “Sólon: conhece homem mais afortunado que eu?!”

O filósofo entortou pensativamente a cabeça, sacudindo-a num gesto positivo: Que sim; e nomeou rol de nomes completamente desconhecidos para Creso.

Atónito com o que acabara de escutar, o rei encarou Sólon, e sorrindo com ar de dúvida, indagou quem eram as ilustres individualidades.

Sólon aprumou-se, passou a mão pelo rosto, e ergueu os olhos para o céu, como pedindo inspiração aos deuses; e de voz bem timbrada informa-o: Que eram de facto desconhecidos, mas de grande virtude e viveram despreocupados, porque não possuíam bens a guardar.

Como Creso permanecesse de olhos vagos, refletindo, por momentos, no que ouvira, Sólon acrescentou, num leve murmúrio:

– “Agora ainda são bem mais felizes… porque já faleceram e não receiam as incertezas do futuro…”

Lançou em graça, o rei, o último e espiritoso dito, e soltou jovial e ruidosa gargalhada, que ecoou pelos largos e longos corredores do majestoso palácio.

Correram os anos pacificamente… com eles, o tempo apagou, quase por completo da memória do rei, o diálogo que tanto o divertira.

Ciro II, rei da Pérsia, tomou conhecimento da imensa fortuna de Creso e pensou invadir a Lídia.

Receoso, Creso reuniu as melhores tropas do reino e alcançando largas alianças, com monarcas amigos, esperou-o nas margens do Hális. Facilmente foi derrotado, sendo preso e severamente humilhado em Sardes.

Ciro II saqueou o palácio e levou o tesouro que Creso tanto se orgulhava.

Os generais persas, com assentimento de Ciro, pensaram matar o rei. Despojaram-no dos ricos mantos reais. Entregaram-no ao escárnio da soldadesca e condenaram-no a morrer na fogueira.

Nessa situação aflitíssima, sentindo altas e doiradas línguas de fogo a lamberem-lhe a macia pele, bradava desesperado, cheio de dor: “Oh Sólon! …Oh Sólon! …Sólon! …Sólon! …

Narram historiadores, que Ciro apiedou-se da sorte do infeliz rei, livrando-o da morte cruel.

Diga, agora, o leitor amigo, se acredita – depois do que leu, – se o dinheiro traz felicidade.

Se ainda pensa que sim, interrogue milionários no declinar da vida ou vítimas de graves enfermidades, e ouvirá de suas bocas, que não.

A felicidade é como disse Campos Monteiro, em “Ares da Minha Serra”: “É contentar-se a gente com o que tem e ganhar com honra e sossego o pão de cada dia.”

Jornal Nova Fronteira