O “BREXIT” E SUAS CONSEQUÊNCIAS
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Neste período de ausência nas páginas do Nova Fronteira rascunhei diversos artigos sem tê-los concluído satisfatoriamente. Mas, no meio tempo, veio à tona um tema de capital importância que passou à frente dos outros assuntos a serem comentados.

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Ronaldo Ausone Lupinacci*

Neste período de ausência nas páginas do Nova Fronteira rascunhei diversos artigos sem tê-los concluído satisfatoriamente. Mas, no meio tempo, veio à tona um tema de capital importância que passou à frente dos outros assuntos a serem comentados. Refiro-me ao afastamento do Reino Unido (Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte) da União Européia ao qual se deu a designação de “Brexit”, isto é, a saída (exit) da Grã-Bretanha (Britain). A relevância da matéria se apresenta sob vários aspectos que nos devem interessar. Para melhor compreensão sobre o que será concluído ao final do texto passo a um breve histórico.

Ao final da Segunda Grande Guerra (1939-1945) a maioria dos países europeus se encontrava dilacerada tanto pelas destruições bélicas, como pelas consequências indiretas do conflito, dentre as quais o empobrecimento. Dos anseios compreensíveis de paz, normalidade, e prosperidade passou-se à cogitação acerca de medidas concretas que pudessem evitar novas conflagrações político-militares, e assegurar um futuro radiante àqueles povos, recém-saídos de intermináveis sofrimentos e privações. Este estado de espírito foi aproveitado pelos embusteiros que manipulam a opinião pública, a política, e a economia, para plantar a ideia da criação de um bloco de nações submetido a uma autoridade única, ou seja, um supergoverno de caráter “ecumênico” – vale dizer abarcativo (desculpem-me o espanholismo) de todas correntes ideológicas e políticas, e, de todos os meios sociais, composto desde membros da antiga nobreza até líderes sindicais.

Está no projeto das correntes político-ideológico esquerdistas a criação de um governo mundial, uma república universal, cujo primeiro passo corresponde ao da aglutinação de diversos Estados em blocos. Tal era, então, o propósito não declarado para a constituição da União Européia, semelhantemente à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (a extinta URSS), entidades supranacionais que deveriam se fundir entre si num determinado momento, e se acoplar a outros blocos, oportunamente. Do mesmo projeto provém a UNASUL (União das Nações Sul-Americanas) da qual, por enquanto, o Brasil ainda faz parte.

Equivocadamente, os fundadores do bloco europeu atribuíram prioridade à economia, com o que surgiu o Mercado Comum Europeu, o embrião da União Européia. Equívoco análogo redundou na fundação do malogrado MERCOSUL. Com efeito, mostrava-se prematura a união econômica antes da união política.

O plano foi urdido e executado discretamente para que as diversas populações não extraíssem as consequências daquilo que se achava em gestação. A prova desta afirmação pode ser retirada de declarações públicas que alguns dos executores da tramoia deixaram escapar. Para mencionar apenas duas transcrevo as palavras da ministra francesa delegada para negócios europeus Elizabeth Guigon: “por muito tempo construímos a Europa em surdina, às escondidas”. E, as de Jacques Delors, então presidente executivo da União Européia: “A construção europeia não começou enunciando claramente o que deverá ser, no fim de seu processo, de formação, a repartição de poderes.”

Entretanto, o que estava sendo urdido nas cúpulas da sociedade europeia não encontrava eco nas populações que, se não rejeitavam ostensivamente a ideia, também não a apoiavam ativamente. Desde a recusa da Noruega em participar da aventura do Mercado Comum Europeu (1972), às consultas populares realizadas na Dinamarca, nos Países Baixos, na Irlanda e na França revelaram hostilidades e sensíveis reticências ao projeto.

Em fevereiro de 1992 foi assinado o Tratado de Maastrchit com o qual foi constituída formalmente a União Européia. Este acordo, de texto confuso, para não dizer ininteligível, foi mal recebido por largos setores da opinião pública europeia. Entre 2002 e 2003 procedeu-se à elaboração de projeto de Constituição da Europa, recusado em plebiscitos em 2005 pelos franceses e holandeses. Em  13 de dezembro de 2007, foi aprovado pelos Chefes de Estado e de Governo da União Europeia o Tratado de Lisboa, que deveria ser ratificado exclusivamente por via congressual. A Irlanda que antes já havia se recusado a integrar o bloco foi fortemente pressionada e chantageada para aprová-lo, o que foi conseguido a duras penas.

O fato principal a ser considerado nesta análise reside em que a ditadura burocrática que se estabeleceu em Bruxelas, onde funciona o Parlamento Europeu foi tomando medidas gradativamente despóticas repudiadas pelas populações tanto em questões de moral sexual (aborto, homossexualismo, etc.), como nas esferas econômica e cultural. Mais recentemente, os dirigentes da Europa Unida se mostraram receptivos à inclusão da Turquia, cujo território se encontra muito majoritariamente na Ásia, e cuja religião (apesar o laicismo oficial) é a muçulmana. Além disso, tais dirigentes vêm apoiando em toda a medida do possível a invasão da Europa por imigrantes do Oriente Médio e do Norte da África, também na maioria islamitas. O choque cultural entre os povos europeus, que ainda trazem vestígios de cristianismo, e fortes tinturas de liberalismo, e os asiáticos e africanos, professos do islamismo se tornou inevitável. Alguns fatos refletiram as tensões que vieram se estabelecendo. Por exemplo, os distúrbios e violências provocados por africanos na Itália e na França, e as violências sexuais praticadas contra mulheres alemãs no início deste ano. Circula a notícia de que as austríacas estão adquirindo armas de fogo para se prevenir. Estes e outros tantos fatos explicam porque os ingleses decidiram abandonar a União Européia, ao contrário das expectativas e das pressões que, de todos os lados, receberam para nela permanecer.

A saída do Reino Unido da União Européia foi assimilada como uma hecatombe pela mídia e pelas cúpulas políticas, ambas empenhadas no plano do supergoverno mundial. Explodiram previsões catastróficas, que se explicam muito mais pelo receio de malogro do plano, do que pelas consequências negativas que se alega estarem a caminho, sobretudo para os ingleses.

Temem os republicanos universalistas que o exemplo inglês contamine outros povos porque já existem sinais neste sentido com o “Swexit” (saída da Suécia) ou o “Frexit” (saída da França), em síntese receiam o chamado “efeito dominó” que poderá resultar na desintegração da União Européia.

Mas, há outro aspecto da questão, também de grande importância. Em entrevista para o jornal Folha de S. Paulo o pesquisador Ted Piccone, especialista em ordem global e política internacional, define o “Brexit” como “exemplo do quanto as pessoas estão insatisfeitas com o status quo e buscam tornar o sistema mais democrático e representativo, mas acabam gerando estresse para a própria soberania popular”¹. E arremata que “o mundo aparenta ter entrado em uma recessão democrática, (…), e o sistema de governo pode estar em risco em todo o mundo”. Este diagnóstico, em parte coincide com o de outro analista para quem os dirigentes da sociedade europeia, percebendo o desencanto de seus povos com o mundo nascido a partir da Revolução Francesa de 1789, isto é, a sociedade republicana e “democrática”, laica e relativista, resolveram patrocinar a “imigração” de asiáticos e africanos muçulmanos como expediente para impedir qualquer retorno à civilização cristã que lá imperou até o passado próximo².

É previsível, realmente, que a União Européia continue a se fragilizar, como é previsível que um dia venha a se decompor. Mas, é difícil antever a natureza dos fatos que irão ocorrer até que se atinja a um desfecho. De qualquer forma, o “Brexit” já ocasionou enorme modificação no panorama geopolítico e tenderá a influir alhures, até mesmo na América do Sul, para o início da implosão da UNASUL e do MERCOSUL. Com efeito, nós brasileiros já nos consideramos agredidos em nossa soberania com as interferências descabidas de outros países e organismos internacionais a respeito dos índios, da Amazônia, ou, mais recentemente do “impeachment” de Dilma Rousseff, e não poderemos aceitar novas imposições ou intromissões.

* O autor é advogado e pecuarista.

 

¹ http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2016/06/1785561-mundo-passa-por-uma-recessao-dos-ideais-democraticos-diz-pesquisador.shtml
² http://www.traditioninaction.org/bev/192bev06_29_2016.htm .

Jornal Nova Fronteira