De quem é a culpa de tanta violência?
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Conheci, nas últimas décadas do século transato, pastor evangélico, sacerdote brasileiro, delicadíssimo, e creio, integro cumpridor da doutrina cristã.

Por Humberto Pinho da Silva

Conheci, nas últimas décadas do século transato, pastor evangélico, sacerdote brasileiro, delicadíssimo, e creio, integro cumpridor da doutrina cristã.

Convidou-me, certa vez, para almoçar em sua casa. Aceitei.

Enquanto ultimava os preparos da cozinha, mostrou-me o escritório, os livros que possuía e os filhos. Dois belos garotinhos de soberbos olhos azuis.

À mesa, após pequena oração, sua mulher, contou-me que as crianças frequentavam colégio evangélico e queixavam-se de serem molestados por coleguinhas.

Perguntei-lhe se foram vítimas de bulling. Respondeu-me que não: “Eduquei-os para não trazerem desaforo para casa. Quem os incomodar, leva – disse a rir – “Para isso mandei-os aprender artes marciais.”

O marido, como pastor, meio atrapalhado, explicou: “Cristo não ensina isso, mas como a sociedade está, é preciso saber defendermo-nos.

El Capone, famoso gangster americano, dizia que tinha coração bondoso, incapaz de fazer mal seja a quem fosse. Apenas se defendia.

E o célebre salteador português Zé do Telhado – que tinha coração generoso – declarou a Camilo Castelo branco, que se entregara à vida de bandido porque lhe negaram emprego, apesar de possuir a Torre Espada, por atos de bravura.

Ainda que duvide, os psicólogos são de parecer, que todos nascem bons, a sociedade é que os torna maus.
Jesus recomendava: “Amar o próximo como a nós mesmo”; e o povo, relicário da sabedoria, costuma, com acerto, dizer: “ Tudo que se planta, colhe-se.

Se educarmos nossas crianças com amor e exigência. Se cuidarmos que respeitem os idosos e superiores: Se as escolas reprimirem, severamente, as prevaricações, o mundo, seria, certamente, bem melhor.

Como querem que hajam cidadãos honestos, se desde criança veem: corrupção, atos indignos, falta de obediência e violência? A escola pública, local onde devia haver respeito, disciplina e normas morais, transformou-se, nas últimas décadas, em terreiro, onde tudo, ou quase tudo, é permitido.

Se os filhos não respeitam os pais e avós, como hão-de obedecer aos professores, se estes foram despidos de autoridade pelos pais dos alunos, e pelo Ministério da Educação?

Como querem construir nação, onde reine ordem e progresso, se a mass-media, diariamente, envenena a juventude, invertendo valores, impingindo como correto, comportamentos vergonhosos.

As nossas novelas televisivas, o cinema, não têm, em regra, enredos que eduquem a sociedade, mas lavagens cerebrais, no intuito do povo, aceitar, como normal, comportamentos degradantes.

Quando vejo banditismo, quando ouço insultos e palavrões, saídos da boca de crianças, não sei se as hei-de condenar ou os meios audiovisuais, que os intoxicam desde a meninice.

Certos escritores, certos jornalistas, certos diretores de programas de TV, é que deviam estar sentados no banco dos réus, em lugar de jovens delinquentes, porque foram eles, que incutiram, e ensinaram, comportamentos e atitudes reprováveis.

Se a violência, o desrespeito, e a imoralidade campeiam nas nossas cidades, contaminando já o interior, e pequenos burgos, a culpa é: das autoridades, dos professores, dos juízes, dos políticos, mormente da imprensa, TV e cinema.

Até quando permitiremos, que quem manda, corrompa nossos filhos e netos? Até quando permitiremos que os verdadeiros responsáveis pelo descalabro e desvergonha, continuem a intoxicar a juventude?

Jornal Nova Fronteira