D. PEDRO II E FEIRA DE SANTANA
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Numa deslocação, que o popular Imperador do Brasil realizou pela Bahia, foi parar, certo dia, à cidade de Feira de Santana.

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Por Humberto Pinho da Silva – Porto/Portugal

Numa deslocação, que o popular Imperador do Brasil realizou pela Bahia, foi parar, certo dia, à cidade de Feira de Santana.

Uma vez chegado a essa bonita terra baiana, na companhia de ilustre comitiva, hospedou-se na Rua Direita, na residência apalaçada de João Pedreira, seu amigo e admirador.

Depois de repousar da árdua e cansativa viagem, avizinhou-se da janela, para melhor apreciar o movimento da rua.

Era segunda-feira. Dia quente e soalheiro. Havia feira, e havia feira de gado.

Estupefacto, o Imperador observou homem estranhamente vestido. Era um vaqueiro de coirama: perneiras, gibão e jaqueta; tudo de couro curtido.

Estranhou D. Pedro II, o vestuário, mormente, por ser todo de couro; e comentou, com sua gente, a estranheza.

Desejando examinar pormenores do trajo – que desconhecia, – resolveu mandar chamar o homem, que vinha montado num garboso ginete; convidando-o a apear-se e a entrar.

Contactado pelo pessoal da casa, o vaqueiro, enleado, mas orgulhoso por poder estar junto do Imperador, entra acanhado, mas com largo sorriso de alegria a bailar-lhe nos grossos lábios ressequidos.

Chegado ao salão, onde permanecia D. Pedro II, beija-lhe atabalhoadamente a mão, e fez menção de se curvar, numa tíbia e confusa mesura.

O Imperador recebeu-o como se amigo se tratasse; com tanta simplicidade e com tanto acolhimento, que o peão foi pouco a pouco, perdendo o usual acanhamento, da gente simples do campo.

Observou, atentamente, e fez reparo a várias peças do trajo. Por fim, agradecendo-lhe a presença, entrega-lhe, discretamente, uma nota de cem mil reis.

Os olhos do vaqueiro dilataram-se de felicidade: ora olhava para o rosto de D. Pedro II; ora observava, dissimuladamente, a nota que segurava na mão calejada.

E, fazendo grotesca reverência servil, afastou-se do Imperador, acompanhado pelas criadas da casa.
Logo que o vaqueiro chegou junto dos companheiros, deu largas ao seu contentamento, e contou, entusiasmado, o que lhe sucedera; e, radiante, mostrava-lhes a nota de cem mil reis.

Para espanto de D. Pedro II, minutos depois, dezenas de vaqueiros, desciam, a cavalo, a Rua Direita., e paravam diante da janela onde estava o Imperador.

Compreendeu D. Pedro e todos que estavam na residência de João Pedreira, que aguardavam a esperança, de também eles, receberem a nota de cem mil reis…

Jornal Nova Fronteira