CRIANÇAS DE AGORA
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Nasci nos anos quarenta. Nessa recuada época, os meninos da classe média iam para a escola a pé, não levavam dinheiro e brincavam com joguinhos que os próprios fabricavam e a imaginação fantasiava. As meninas entretinham-se às casinhas e tinham bonecas de trapos.

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HUMBERTO PINHO DA SILVA – Porto, Portugal

Nasci nos anos quarenta. Nessa recuada época, os meninos da classe média iam para a escola a pé, não levavam dinheiro e brincavam com joguinhos que os próprios fabricavam e a imaginação fantasiava. As meninas entretinham-se às casinhas e tinham bonecas de trapos.

Pelo Natal e aniversário, os mais afortunados, recebiam carrinhos de folha, movidos a corda ou boneca de cartão prensado, se fossem meninas. As avós fabricavam vestidinhos de chita, e outros de malha, para a “filharada” da menininha.

Nesse tempo não havia Internet, computadores, televisões, e o automóvel era privilégio de rico.

Os meninos respeitavam os idosos; pediam a bênção aos avós, principalmente no interior; e coadjuvavam a mãe no maneio da casa.

Correram os anos, mudaram-se os usos, os costumes, os valores.

Os filhos passaram a principezinhos birrentos. A família verga-se aos caprichos do menino. Avós, pais, tios, professores cuidam, quase subservientes, para que nada lhe falte.

Crescem sem limites, convencidíssimos que os outros vivem para os servirem. A adolescência chega, e encontra-os mentalizados que nada lhes é vedado.

Mas em breve os jovens deparam contrariedade: surgem conflitos com condiscípulos, mestres, e colegas de trabalho…e julgam-se incompreendidos…

Aqui está o pensamento da maioria dos jovens. Jovens que – na maior parte das vezes, – não puderam conviver com os avós (que se encontram depositados em lares,) nem pais, porque o tempo é necessário para cuidarem da carreira profissional.

Jovens, que se criam sem família, sem elos que os liguem ao passado, sem valores e afectos. Viveram a meninice no infantário e a adolescência na escola.

Educados ou deseducados pela educadora, TV e pela revistinha cor-de-rosa. Criados colectivamente, cunhados como moedas, com pareceres parecidos, inculcados pelos fazedores de opinião.

Como querem que da geração, criada desse jeito, possam surgir políticos honrados, defensores da família e respeitosos com a velhice?

São órfãos de pais vivos. Incapazes de pensarem, serem responsáveis, agir corretamente e tornarem-se cidadãos honestos e cumpridores dos seus deveres.

Jornal Nova Fronteira