Como Maria e José, os idosos nem sempre têm lugar na hospedaria
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Diz Lucas, no seu Evangelho, que no tempo de Quirino, governador da Síria, José e Maria, para cumprirem o decreto de César Augusto, deslocaram-se a Belém, para se recensearem.

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Por Humberto Pinho da Silva – Porto/Portugal

Diz Lucas, no seu Evangelho, que no tempo de Quirino, governador da Síria, José e Maria, para cumprirem o decreto de César Augusto, deslocaram-se a Belém, para se recensearem.

Por essa ocasião, José buscou estalagem, para ambos; mas, como não havia lugar nas hospedarias, acomodou-se em humilde manjedoura.

O mesmo acontece a muitos dos nossos idosos: não têm lugar na casa dos filhos, nem em lares, para velhos.

Estes, por terem casas tão exíguas, que mal cabem as crianças…; ou, simplesmente, porque não dispõem de tempo…

Alguns, também, não conseguem hospedar-se em lares, porque não possuem bens suficientes.

Os mais afortunados, os que auferem substanciais reformas, ou podem contar com o auxílio monetário dos filhos, ainda se recolhem em residências, onde recebem todos os cuidados, que a velhice necessita; mas, infelizmente, os que foram abandonados, por filhos e parentes, o  único refúgio possível, são lares, onde passam noites dormindo…e dias, ao redor do aparelho de TV, de mantinha nos joelhos…

Mesmo, quando usufruem pensões confortáveis, sofrem, por se verem apartados da colectividade, e considerados inúteis… esquecidos de todos…; até dos médicos… Sim: até dos médicos!: que consideram, muitas vezes, desnecessário realizar tratamento dispendioso, por serem de idade avançada…

Outro tormento, que persegue os idosos, é o receio de não terem recursos para pagarem a mensalidade do lar, ou este vir a encerrar.

Raras vezes, a reforma, sobe – até pode descer… –; mas os preços não param de subir… e as mensalidades podem ser actualizadas…

E se a reforma – que não costuma acompanhar a inflação real, – não consegue suportar os aumentos? Que fazer?

O medo de virem a engrossar o número dos sem-abrigo, não lhes dá sossego, e muitos, vivem em constante preocupação.

Referi, alguns problemas, muitas vezes esquecidos pela sociedade, mas, muito mais há, que preocupa os que pertencem à classe média – classe quase extinta em Portugal, – porque os outros, ficam pelos hospitais… ou na rua, quando são abandonados pela família, ou terminam seus dias sós, na solidão de velha casa.

Ser velho, actualmente, é muito difícil. No passado, os avós, eram desejados: cuidavam e educavam os netos, e muitas avozinhas, ainda faziam a lida da casa, enquanto os filhos trabalhavam.

Mas agora?

Como é triste, muito triste…ser velho!

Jornal Nova Fronteira