A arte de enganar
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Há dias escrevi sobre a “Arte de Furtar”; agora vou-vos falar de outra “Arte” – a Arte de Enganar. Poderia dissertar sobre a matéria. Escrever páginas e páginas sobre o “transcendente” assunto, mas pareceu-me preferível ilustrar com dois casos verídicos, que chegaram ao meu conhecimento.

Por Humberto Pinho da Silva

Há dias escrevi sobre a “Arte de Furtar”; agora vou-vos falar de outra “Arte” – a  Arte de Enganar.

Poderia dissertar sobre a matéria. Escrever páginas e páginas sobre o “transcendente” assunto, mas pareceu-me preferível ilustrar com dois casos verídicos, que chegaram ao meu conhecimento.

O primeiro é a peripécia de menina, que, concluído o quinto ano liceal, pretendia ser educadora.

Nessa recuada época – já lá vai quase meio século! – o curso era administrado por Ordens Religiosas, que eram exigentes na admissão.

Pensavam, as Irmãs – e bem, – que não basta ter diploma, por que: para educar, é preciso ser educado.

Como posso ser educador, se desconheço as regras básicas de civilidade?

Educador, não é o que se preocupa apenas com o “exterior” do educando; mas o que procura formar o “interior”: o que educa a Alma, como dizia Barres.

Conhecendo essa necessidade, as Irmãs eram rigorosíssimas na selecção das alunas.

Chegavam as candidatas, e perguntavam:

– “A menina para que quer ser educadora?”

Se respondia:

– “Porque gosto de crianças…” – ou coisa semelhante, logo a madre refutava:

– “Só por isso?!…”

Ora certa ocasião, uma candidata, não descortinava a razão de ser educadora.

Muito atrapalhada, aflita, sempre titubeando, agitando freneticamente a saia plissada, de rosto escarlate, olhava receosa para a madre, que em silêncio, aguardava a esperada reposta.

Então a mãe, que a acompanhava, mais ladina e experiente, interveio:

– “Para educar cristãmente as crianças…”

– “É isso mesmo!…” – exclamou radiante a madre, ao ver desvendado o segredo que abria a porta da sua escola.

O que pretendiam, mãe e filha, era apenas o diploma… que garantisse ingresso, como educadora, a Jardins-de-infância. Nada mais…

Também, digno de relato, foi a esperteza do adolescente, que conheci:

Desiludido da vida trabalhosa que levava, resolveu ser sacerdote.

Ser padre, seria solução – a seu ver, – para se livrar de tarefas penosas e desagradáveis; mas teria que renunciar ao matrimónio, e a prazeres que se envolvera.

Num lampejo de esperteza, assentou ser pastor evangélico.

Assim pensou, assim fez. Rondou, seraficamente, Igreja Evangélica (por certo seita, que é mais fácil,) e, ardilosamente, conseguiu, após escasso estudo: paróquia; bom vencimento; e bom casamento… com jovem da Igreja, que usufruía substancial salário.

É bem verdade: o mundo é dos espertos. Dos que sabem dominar a “Arte de Enganar”…

Jornal Nova Fronteira