Deus aperta, mas não enforca
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Certamente nós já ouvimos essa afirmação em algum momento da vida ou outras parecidas que expressam a mesma intenção. Deus não mata, mas castiga; Deus escreve reto em linhas tortas e assim por diante. A tentativa de fundo dessas expressões relativamente usais são de sustentar o amor de Deus, mas ao mesmo tempo compreender a existência do mal.

Padre Ezequiel Dal Pozzo
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Certamente nós já ouvimos essa afirmação em algum momento da vida ou outras parecidas que expressam a mesma intenção. Deus não mata, mas castiga; Deus escreve reto em linhas tortas e assim por diante. A tentativa de fundo dessas expressões relativamente usais são de sustentar o amor de Deus, mas ao mesmo tempo compreender a existência do mal. Em outras dimensões, na tentativa de consolar o mal que nos afeta, ouvimos; Deus levou essa pessoa querida, porque assim era melhor para ela; ainda, essa criança nasceu com esse mal, porque Deus quer tirar um proveito maior. São afirmações até piedosas, mas que podem contaminar o cenário religioso e poluir a ideia de Deus amor.

O problema do mal sempre foi discutido nas religiões e na filosofia. E o mal afeta todos os seres humanos. Compreender, buscar conhecer seu dinamismo, embora nos ajude a lidar com as manifestações do mal, contudo não elimina completamente sua existência. Se uma pessoa amada morreu, tentamos explicar a surpresa de sua morte como sendo o melhor para ela. Muito embora, pela fé, a “visão de Deus” seja o que teremos de melhor, o incomodo está no fato de explicar os meios pelos fins, o que possivelmente não seja necessário e nem seja o melhor. A beleza da fé na eternidade procura dar sentido a dureza da morte trágica. Ou ainda, em outra direção, estamos tentando dizer que embora Deus pudesse evitar tal morte, não o fez porque pode dar-lhe algo melhor. Essa compreensão para quem tem fé, ainda, mas não em todos os casos, é relativamente tranquila. O dilema está para quem tem pouca fé e fraca vivência religiosa.

O que fazer diante desse cenário? As respostas não são fáceis e nem se esgotam. O que tentamos é sempre indicar caminhos de reflexão. Queremos deixar sempre mais clara e limpa a ideia de que Deus é puro amor, eliminando ao máximo as contradições. Essa meta deve ser perseguida por um conjunto agregado de forças, teólogos, filósofos, pregadores, sacerdotes, pastores, missionários, ajudando as pessoas a purificarem, aos poucos, sua compreensão religiosa da vida, de tal modo, a confiarem sem reservas suas vidas nas mãos do Deus amor. Isso porque, sempre que afirmamos a bondade, a misericórdia e o poder de Deus, facilmente, logo depois, entramos em contradições quando tentamos explicar a existência do mal. Essas contradições passam a ser o conteúdo para os divulgadores do ateísmo, difundirem suas teses. Os ateus podem perguntar: mas que Deus é esse? Que amor é esse? E de fato o fazem para difundir o ateísmo.

Voltando ao título dessa reflexão, tentando iluminar suas consequências, poderíamos dizer que, embora a vida se apresente na sua concretude, afetada pelo mal que nos “aperta”, Deus está sempre em atividade para nos sustentar, nos livrar da força do mal, para que esse não nos “enforque”. Quando sentimos que o mal nos afeta, em nenhum momento precisamos atribuir a Deus esse mal, e nem mesmo atribuir a ele a permissão desse mal. Pensar que poderíamos viver sem ser afetados por nenhum mal é um absurdo. Neste mundo criado que vivemos não dá para pensar assim, porque é uma ideia sem sentido. Um pensamento honesto não atribui causa e nem permissão de Deus aos males que existem ou acontecem, por menores que sejam. O mal é sim uma realidade totalmente contrária a bondade divina. Ainda, mesmo estando ali, e sem perder sua força e seu horror, o mal se converte num cenário onde podemos ver toda a beleza do amor de Deus, pois é exatamente ali, que Deus coloca toda sua força de ação e de manifestação. Onde existe mal, podemos dizer, que Deus está ali agindo com sua força e amor para que essa realidade se modifique.

Jornal Nova Fronteira