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Pesquisadores da Universidade Estadual da Pensilvânia, nos Estados Unidos, para medir como as pessoas enfrentam os esforços físicos, propuseram um desafio: 27 voluntários deveriam carregar um balde de moedas por uma determinada distância.

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Pesquisadores da Universidade Estadual da Pensilvânia, nos Estados Unidos, para medir como as pessoas enfrentam os esforços físicos, propuseram um desafio: 27 voluntários deveriam carregar um balde de moedas por uma determinada distância. E poderiam fazer isso da maneira que considerassem melhor. Os baldes foram colocados em dois pontos: próximos de onde os participantes deveriam iniciar o desafio e, outros, bem pertinho da linha de chegada. Para surpresa da equipe, a maior parte dos voluntários preferiu pegar o balde que estava mais próximo deles – mesmo que isso os fizesse carregar o peso por um trajeto maior. Entrevistadas depois, as pessoas justificaram sua decisão da seguinte forma: achavam que, ao pegar o balde que estava logo ali, tinham a impressão de ter começado o desafio mais cedo, ganhando, assim, uma vantagem na sua resolução. Ou seja, o raciocínio foi “quanto antes eu começar, antes eu termino”. “Precrastinadores iniciam as tarefas antecipadamente para se livrar da ansiedade que elas podem representar, do medo de não conseguirem terminá-las a tempo”, explica David Rosenbaum, um dos autores da pesquisa e professor do Departamento de Psicologia da universidade. “É um gatilho tão automático, que não conseguem nem medir as desvantagens que podem ter”, afirma. No caso, ter que demandar um maior esforço físico do que seria necessário.

Uma questão de expectativa

A chave, aliás, não está somente em saber gerenciar o tempo, esse elefante branco que nos segue o tempo todo, de casa para o trabalho, para conseguir restabelecer as prioridades. Mas principalmente gerenciar nossas expectativas em relação a elas. Porque a questão do tempo tem mais eco nas nossas vontades e projeções do que no relógio em si. Essencialmente, sempre encontramos espaço para aquilo que realmente queremos: ir à academia, estudar italiano, marcar o exame que o médico pediu, visitar a amiga que acabou de ter um bebê, assistir ao filme que estreou, terminar aquele texto que ficou de entregar (e essa relação é a minha forma de vencer meu auto-engano, eu confesso).

O imprescindível das nossas expectativas com relação às tarefas a serem cumpridas está em não deixar que elas nos gerem ansiedade demais – seja por querer tratá-las de imediato, seja por postergá-las até o último minuto. Nem os procrastinadores nem os precrastinadores então livres dessa sensação. E, para o professor John Perry, a raiz desse sentimento está na nossa busca pelo perfeccionismo. “Para mim, procrastinar sempre foi uma maneira de me dar permissão para fazer de forma não tão perfeita tarefas que exigem um trabalho perfeito”, diz. Com muito prazo, era possível para ele se preparar para análises longas e acadêmicas de textos e mais textos. Mas com o prazo iminente de entrega, não havia tempo para o perfeito, apenas para o adequado. Nos precrastinadores, esse sentido é oposto, mas não menos determinante: querem começar a tarefa antes para deixá-la impecável. Mas o que ronda essa intenção é o medo de “não dar conta do recado”. “O que alguém precisa fazer para controlar as próprias fantasias perfeccionistas é o que eu chamo de triagem de tarefas. Para muitas delas, funcionará melhor se você começar planejando um trabalho adequado – talvez até um pouco melhor que adequado – mas não perfeito”, ele diz.

Entre a análise de Perry, estão questões como “quão útil seria um trabalho perfeito aqui?”, “qual diferença vai fazer para mim e para outras pessoas se for perfeito ou não?”, “eu realmente consigo fazer algo perfeito neste caso?”. “Geralmente a resposta será que um trabalho não tão perfeito funciona bem e, além do mais, é o que eu vou conseguir fazer de todas as formas”, afirma. O perfeccionismo gera uma ansiedade que nos paraliza ou que nos faz sair correndo. Nenhuma das duas vai ajudar a realizar as coisas que você precisa realizar. “Isso nos dá segurança para arregaçar as mangas e fazer o que precisa ser feito agora”. Ou, pelo menos, começar amanhã.

Fonte: Vida Simples – Janeiro/2015
 
Matéria do repórter Rafael Tonon da revista Vida Simples, edição do mês de Janeiro/2015. Por uma questão de espaço precisei editar a matéria, por isso, recomendo ler a reportagem para que a mensagem seja melhor compreendida. Amor e luz!

Jornal Nova Fronteira