Somos por natureza inclinados a pensar no futuro, talvez pelo instinto da sobrevivência. Isso tanto mais se nota quando acontece um fato muito relevante, que tem importantes consequências a curto, médio e longo prazo. As eleições de 2018 se enquadram na categoria de fato relevante porque apontam para mudança radical (ou quase tanto) dos rumos na vida do País. Daí sermos tentados a especular sobre quais mudanças advirão.
A perfeita compreensão da ideia mestra deste artigo depende de alguns pressupostos. O primeiro deles consiste na noção do que seja “Establishment”, ou seu equivalente em português (“Sistema”) pouco utilizado, porém, na linguagem especializada. Portanto, não recorro ao inglês por pedantismo, mas porque os que tratam do assunto sobre o qual incide a palavra se valem do termo em língua inglesa, uma vez que a tradução pura e simples não traz a conotação pejorativa com a qual é empregada (“estabelecimento”)¹.
Os comentários desfavoráveis que faço, nesta coluna, a inúmeros fatos da atualidade têm um denominador comum, ou seja, a crise das almas, que gera ou estimula todas as demais anomalias contemporâneas. E, infelizmente, são poucos os fatos causadores de júbilo ou admiração merecedores de comentários. Não se trata de pessimismo, e sim de resultado da observação objetiva e fria da realidade.
A fim de organizar as ideias no ambiente confuso que se formou com a greve dos caminhoneiros pareceu-me didático apresentar algumas das questões emergentes, através de perguntas e respostas. Ei-las, em forma sucinta:
Os grandes grupos de “mass media”, ou, simplesmente a mídia, são peritos em desinformação e desorientação, porque servem ao “governo dos governos”, ou, com ele até certo ponto se confundem, assunto sobre o qual não vou me estender. Assim, bombardeiam o público com notícias de pouca importância, e, dão desproporcional ênfase a outras.
Em 15 de dezembro último a Folha de S. Paulo, na coluna de Mauro Zafalon, publicou notícia preocupante. Nela reproduziu prognóstico do especialista Maurício Palma Nogueira segundo o qual a criação de gado bovino enfrentará sérias dificuldades no futuro imediato, com reflexos negativos previsíveis na área social . A reportagem diz, em síntese
O FATO. No dia 2 de novembro último, feriado dedicado aos Finados, uma turba de aproximadamente quinhentas pessoas invadiu a fazenda conhecida pela denominação Igarashi, correspondente ao sobrenome de seus proprietários, e, situada no vizinho município de Correntina (BA). O grupo de invasores chegou de surpresa em automóveis, ônibus e caminhões, e destruiu o que encontrou pela frente.
É público e notório que os brasileiros estão descontentes com as suas autoridades políticas. Mais do que descontentes, estão moralmente rompidos com tais autoridades. Ao mesmo tempo, se acham indignados pelas ingerências indevidas, deficiências e ineficiências do Estado, e, pela corrupção desenfreada. Dados de pesquisa da Fundação Getúlio Vargas mostram rejeição de 78% aos políticos (apoio de 8,9%), rejeição de 76% aos partidos (apoio de 7,3%).
Está sendo elaborada na Câmara dos Deputados aquilo que os parlamentares designam por reforma política. Boa parte da população culta, provavelmente a grande maioria dela, não espera por qualquer reforma séria. Vê tais movimentações apenas como meio de criar artifícios para que a oligarquia política não perca seu poder, nem seus privilégios, mediante a inserção de inovações (ou velharias) meramente cosméticas.
Nesta semana se intensificou a divulgação de matérias jornalísticas acerca do parlamentarismo, o que é muito compreensível diante da calamitosa situação política nacional¹. Mas, embora o presidencialismo (de coalizão) tenha se comprovado desastroso, o parlamentarismo republicano por si só não iria melhorar muito as coisas porque padece dos mesmos vícios inerentes àquele regime, ainda que em menor amplitude, afirmação esta que dependeria de extensa explicação, a ser exposta em um próximo artigo.