Uma reflexão sobre o negro na propaganda
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Quando se faz um comercial com pessoas negras, quase sempre elas estão servindo acarajé, tocando berimbau ou dançando numa roda de samba ou capoeira. Bastante pertinente, uma vez que essas são “coisas de preto”, com muito orgulho. Entretanto, esse estereótipo diz muito sobre o preconceito racial velado existente em nossa sociedade e propaganda é um reflexo disso.

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Por Marluce Barbosa, Publicitária e Diretora Comercial da Record Bahia

Quando se faz um comercial com pessoas negras, quase sempre elas estão servindo acarajé, tocando berimbau ou dançando numa roda de samba ou capoeira. Bastante pertinente, uma vez que essas são “coisas de preto”, com muito orgulho. Entretanto, esse estereótipo diz muito sobre o preconceito racial velado existente em nossa sociedade e propaganda é um reflexo disso.

É certo que muita coisa está mudando e hoje já é possível ver, especialmente na Bahia, comerciais que mostram negros em situações de consumo no shopping, em escolas ou instituições financeiras. Contudo, apesar do espaço do negro ter crescido nas campanhas publicitárias, quase não há negros ou negras trabalhando nas agências de publicidade e quando falamos em Bahia, isso parece um tanto anacrônico, especialmente em Salvador.

De acordo com o IBGE, a capital baiana é a cidade com maior número de descendentes de africanos no mundo, seguida por Nova York, majoritariamente de origem iorubá, vindos da Nigéria, Togo, Benim e Gana. Então, seria natural que os departamentos de Criação, Planejamento, Atendimento e Mídia das agências locais fossem repletos de negros e negras. Mas não é isso que acontece.

Os postos de trabalho mais importantes e, consequentemente, os salários mais altos das agências ainda são “reservados” para os brancos. Esse não é um impedimento explícito. É algo sutil, quase imperceptível para a maioria das pessoas. Por isso precisamos falar sobre isso.

Está claro que ninguém irá contratar um profissional para sua empresa somente porque ele ou ela é negro ou negra. Isso passa também por uma questão de capacitação. Hoje ocupo um cargo de diretoria numa grande rede de televisão e a capacitação foi fundamental para ter chegado até aqui.

Mas, atentar para a questão racial é importante para que tenhamos campanhas com maior empatia e não apenas para fazer o “politicamente correto”. É preciso atingir verdadeiramente o público consumidor e, ao mesmo tempo dar ao negro o seu lugar de fala. Assim como uma criança negra não se reconhece numa boneca branca, uma pessoa negra não vai se reconhecer numa campanha pensada por uma pessoa branca, por mais que essa pessoa apoie a causa contra o preconceito. Vamos pensar mais sobre isso?

Jornal Nova Fronteira