A Derrocada do Saber em Profundidade
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Em São Paulo proliferam os restaurantes japoneses, tipo de culinária que muito se difundiu e hoje já chegou a outras cidades. Os acepipes apresentados acabaram, ao longo dos anos, afunilados em poucas variedades.

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Sergio Fonseca – e-mail: s.de.fonseca@bol.com.br

Em São Paulo proliferam os restaurantes japoneses, tipo de culinária que muito se difundiu e hoje já chegou a outras cidades. Os acepipes apresentados acabaram, ao longo dos anos, afunilados em poucas variedades. Uma série de pratos tradicionais, entretanto, você só encontra em alguns ‘isakyá’ botecos japoneses mais tradicionais. Entre essas comidas temos shirako, burikawa, sushi de sardinha, idá shiokará, natto e espinha de sardinha. Ao experimentar esta última, lembrei-me de uma apostila: um bom sustentáculo, sem nenhum glamour, sem sabor, sem perfume, sem nada que possa servir de alimento verdadeiro e substancioso.

Pittigrilli (pseudônimo do escritor italiano Dino Segre), na década de 40 do século passado, cunhou um termo insólito: psitacismo. O nome científico do papagaio é “psitacus amazonensis”. Para Pitigrilli, psitacismo seria a repetição papagaiesca de palavras com pouco sentido. Ao pinçar trechos importantes de livros para colocá-los linearmente, de modo a serem mais facilmente memorizados, pedaços importantes das exposições autorais perdem, ao serem reduzidos à sua expressão mais simples, fatores importantes como ênfase em certos pontos, críticas em outros, importantes notas de rodapé.

O escritor alemão Hermann Hesse que morreu em 1962, já se referia, depreciativamente à crescente febre de “outlines”(apostilas) dizendo que o século XX corria o risco de ser conhecido como o século da apostila.

Isso se perpetuou com a apreciação, sem qualquer profundidade, não só nas apostilas como em smartphones, tablets e pc’s. O não estudo das obras realmente importantes vem formando uma geração de repetidores, existindo pouquíssimos pensadores de melhor quilate. Uma aula hoje virou o processo pelo qual a anotações do professor passam a ser as anotações do aluno, sem passar pela cabeça de nenhum dos dois. Isso é válido para todos os níveis de ensino, universitário inclusive.

Há pouco mais de 30 anos, adotei o saudável hábito de estudar uma hora por dia, o que quer que esteja me interessando no momento. Isso ja´incluiu filosofia tomista, álgebra de segundo grau, ascenção e queda dos templários, gnose, obras de Plutarco, Heródoto e economistas modernos além de, autodidaticamente, com fitas e livros, aprender italiano.

Quando li Thomaz de Aquino, marcou-me muito um trecho que era mais ou menos assim: “Quem recebeu do Criador determinados talentos e não os desenvolve, terá mais tarde, sérias contas a prestar, coisa que outro ser humano não tão bem dotado, porém mais esforçado terá muito mais favor aos olhos do Altíssimo”. E é isso que tenho feito nestes últimos anos.

Esse sábio uso de um tempo me impediu, contudo, de ser um frenético usuário de smartphones e quejandos. Sou um verdadeiro analfabeto eletrônico. Tenho, contudo a companhia de filósofos, grandes escritores e grandes pensadores. Dou grande valor aos aforismos que permeiam suas obras, com sabedoria, humor e questionamentos.

Resolvi mostrar alguns aforismos que muito me interessaram, esperando que induzam alguém à leitura:

Não há tribunais que bastem para defender a lei, quando o dever se ausenta da consciência dos juízes. Ruy Barbosa (1849-1923)

O mais difícil não é ter novas idéias, é livrar-se das antigas. John Maynard Keynes (1883-1946)

Os homens erram, os grandes homens confessam que erraram. Voltaire (1694-1778)

A palavra foi dada ao homem para esconder o pensamento. Charles Maurice Talleyrand Périgord (1754-1838)

Nunca se mente tanto quanto antes de uma eleição, durante uma guerra ou depois de uma pescaria. Otto Von Bismarck (1815-1898)

E este último aforismo, bem atual:

Toda grande causa começa como um movimento, vira um negócio e finalmente, degenera numa quadrilha. Eric Hoffer (1902-1983)

Jornal Nova Fronteira