Quem são os culpados pelo meu fracasso?
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Escuto muita gente tentando colocar nos outros a culpa pelos seus fracassos. O esposo ou a esposa, os filhos ou os pais, o colega de trabalho, o vizinho, o governo ou outro alguém que nem conseguem identificar é responsável pelos seus fracassos. É estranha, mas existe muito essa prática de atribuir aos outros aquilo que eles não são responsáveis. É o pensamento vitimista. Eu sou vítima do mal que me fizeram.

Padre Ezequiel Dal Pozzo
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Escuto muita gente tentando colocar nos outros a culpa pelos seus fracassos. O esposo ou a esposa, os filhos ou os pais, o colega de trabalho, o vizinho, o governo ou outro alguém que nem conseguem identificar é responsável pelos seus fracassos. É estranha, mas existe muito essa prática de atribuir aos outros aquilo que eles não são responsáveis. É o pensamento vitimista. Eu sou vítima do mal que me fizeram. Muitas vezes a pessoa não identifica ninguém como autor da culpa dos fracassos, mas cria a hipótese de que existem. Aí ela fala ao orientador espiritual: “padre, eu acho que alguém está me fazendo mal. Não sei quem é, mas as coisas na minha vida estão dando muito errado. Só pode ser alguém querendo o meu mal”. Quando a pessoa cria uma hipótese dessas fica ainda mais difícil de que algo na sua vida mude. Colocar um culpado pelos nossos fracassos já é complicado, mais ainda criar hipótese de alguém que eu nem sei quem é.

Quando a pessoa se coloca como vítima, ela não cresce. A vítima é sempre aquela que foi ferida sem culpa. O outro é culpado. Logo, quem precisa mudar é ele. Eu não. Eu sou apenas aquele que fui machucado pelo outro, sem culpa. Vejam que complicado é esse pensamento. Quem precisa mudar é o outro. Quem precisa melhorar para que a minha vida de certo é o outro e não eu. Essa é uma das formas mais fáceis de empacar na vida. Pessoas assim não avançam enquanto não mudarem esse pensamento. Atribuem seus fracassos, suas quedas, seus problemas a responsabilidade de outros.

Há pessoas que carregam a ideia de que a casa em que habitam ou o local de trabalho tem sobre elas uma força negativa que não as deixam viver. Nesses casos também há uma dificuldade grande de solução, porque não há algo objetivo que confirme a ideia que criaram para si. Uma outra pessoa pode dizer: eu não sinto nada aqui, isso é da sua cabeça. Mas nada adianta para fazê-los mudar. Na maioria dos casos, a troca de ambiente não mudará em nada. Carregam consigo essa mesma suspeita, se não trabalharem sua harmonia interior. Naturalmente que os ambientes nos influenciam e tem uma carga sobre nós. Mas, quase sempre, a negatividade e a suspeita é uma elaboração interior. Não estou em harmonia comigo mesmo.

Nós precisamos ser protagonistas da nossa vida. Eu construo a minha vida. Na medida em que tomo consciência das decisões que posso tomar e sou livre para decidir, devo também assumir as responsabilidades daquilo que me acontece. Claro que outras pessoas podem também me influenciar negativamente. Mas atribuir a elas o meu fracasso, quase sempre, é algo exagerado. Mesmo pessoas que são muito feridas, enganadas, exploradas por outras, dão a volta por cima, quando tem noção da responsabilidade sobre suas vidas. Eu sei que fui ferido, mas sei que a vida vai melhor com o meu empenho. Ninguém vai me tirar da situação que estou, senão eu mesmo. A força para superação deve brotar da minha interioridade. Essa compreensão é fundamental para que não permaneçamos no papel de vítimas. Ninguém vencerá se permanecer na condição de vítima. Se o culpado é o outro, o que devo fazer? Ficar aqui sofrendo minhas feridas. Eu não sou culpado de nada. Esse pensamento fraco instala as pessoas em situação de permanente sofrimento. O protagonista da sua história não assume o vitimismo. Sabe que a vida é difícil, sabe que outros podem fazê-lo sofrer, mas sabe que tem força interior para levantar e que vai dar a volta por cima. Não alimenta nele um pensamento que o amarra no sofrimento e não o deixa levantar. Ele sabe que precisa levantar e andar.

Jornal Nova Fronteira