Produtores de cachaça do Oeste da Bahia melhoram qualidade e conquistam novos mercados
  • Compartilhe:

O Oeste da Bahia sempre foi grande produtor de cachaça, mas pecava no quesito qualidade e padrão. Preocupados em manter a tradição de seus antepassados, mas antenados no mercado consumidor, cada vez mais exigente, alguns produtores de Cristópolis, Paratinga e Feira da Mata, com áreas agrícolas na Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, resolveram buscar capacitação e oferecer um produto mais nobre, que atendesse o requintado gosto do consumidor.
cachaca

Emerson Cardoso (Sebrae), Lindauro Mota Nunes (Cachaça Baiana Bacana), DR. Rogério Lopes Brandão (Universidade Federal de Ouro Preto) e José Bertunes (Cachaça Paratinga)

Texto e fotos Eduardo Lena

O Oeste da Bahia sempre foi grande produtor de cachaça, mas pecava no quesito qualidade e padrão. Preocupados em manter a tradição de seus antepassados, mas antenados no mercado consumidor, cada vez mais exigente, alguns produtores de Cristópolis, Paratinga e Feira da Mata, com áreas agrícolas na Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, resolveram buscar capacitação e oferecer um produto mais nobre, que atendesse o requintado gosto do consumidor.

O melhor caminho encontrado pelos produtores foi entrar em contato com o Sebrae, no intuito de receberem capacitação e preparo para enfrentar uma nova fase na industrialização do terceiro destilado mais consumido no mundo.

Assim que foi contatado, o Sebrae disponibilizou a vinda de um especialista na área e já em 2005, trouxe para a Bahia Rogério Lopes Brandão, professor titular da Universidade Federal de Ouro Preto/MG, que desde 2010 trabalha com fermentação de cachaças.

José Bertunes, Lindauro Mota Nunes, Dr. Rogério Lopes Brandão e Antônio Nunes, na Expobarreiras 2016

José Bertunes, Lindauro Mota Nunes, Dr. Rogério Lopes Brandão e Antônio Nunes, na Expobarreiras 2016

Em 2006 Rogério Brandão fundou, em parceria com a esposa, a empresa CerLev, abreviação de Cerâmica e Levedura. “Minha esposa é artista plástica e trabalha com cerâmica de alta qualidade e eu me especializei na produção de leveduras puras para a fabricação de cachaça”, disse o professor da Universidade Federal de Ouro Preto, enfatizando que a CerLev presta assistência técnica a diferentes produtores em quatro estados do Brasil: Minas Gerais, Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro.

Quanto ao Oeste da Bahia, o professor relatou que a primeira visita que fez na região foi em 2005, através do Sebrae, a convite de Paulo Mesquita, coordenador de um programa estadual de desenvolvimento da indústria da cachaça. “Naquele ano começamos a visitar alambiques no Oeste da Bahia, Chapada Diamantina e outras regiões do Estado, para conhecer a realidade e propor modificações. Após mapear as propriedades com algum potencial, entre elas as dos proprietários das cachaças Baiana Bacana, Paratinga, Abaíra, entre outras, iniciamos um trabalho na melhoria na qualidade do produto.

Durante seu depoimento, Dr. Rogério Brandão afirmou que assim como todo o produto oriundo de um processo fermentativo, o jogo é jogado na fermentação e se você melhora a fermentação, melhora potencialmente a qualidade final do produto. “O que propomos e temos introduzido é uma metodologia que substitui a fermentação caipira, comum em todos os estados produtores de cachaça, por uma fermentação assistida, feita com a levedura que foi selecionada no próprio alambique do produtor. Levamos essas leveduras locais para o laboratório, isolamos os mais diversos indivíduos, clonamos e realizamos uma diversidade de testes e assim que for detectada uma levedura com maior potencial de produção ela é trazida de volta ao produtor, com isso cada alambique passa a ter sua identidade”, relatou o consultor.

cachaca2

José Bertunes, proprietário de um alambique na zona rural da cidade de Paratinga e dono da marca Cachaça Paratinga, comentou que usa tipos de cana selecionados em um processo de fabricação com rigoroso controle de qualidade e sem nenhum agente químico, por isso seu produto possui um sabor extremamente suave e agradável aos paladares mais exigentes. “Formalmente estou no mercado há uns 15 anos, mas como recebi o alambique do meu pai, posso afirmar que produzo cachaça há muito tempo. Só para se ter uma ideia do tempo que existe a Cachaça Paratinga, em 1946 meu pai, mesmo na informalidade, solicitou que o Instituto Osvaldo Cruz fizesse a primeira análise do produto produzido por nossa família. Com a velhice de meu pai e percebendo que precisava ter um produto diferenciado para ganhar novos mercados e zelar pelo bem estar do consumidor, fomos em busca de conhecimentos para trazer para dentro da nossa indústria, visando fabricar uma cachaça que atendesse o requintado gosto do consumidor”, falou o empresário, que atualmente envasa aproximadamente 40 mil litros de cachaça por ano.

cachaca3

Outro produtor de cachaça que tem se destacado na região, é o empresário Lindauro Mota Nunes. Segundo ele, tudo começou em 1908 com Martinha Nunes Neres do Prado e Ambrósio Nunes da Silva, seus bisavôs. “O Know How passado de geração a geração foi sendo aperfeiçoado, mas sempre preservando aquele sabor artesanal que dá tanta personalidade aos produtos da hoje Baiana Bacana, marca que começou a ser comercializada no final de 2015”, proferiu o empresário.

Na Fazenda Salininha, zona rural de Cristópolis, Lindauro produz um destilado diferenciado, feito a partir de cana-de-acúcar plantada de forma orgânica, sem a adição de adubos químicos e produzida sob fermentação natural. “No processo de destilação só colhemos o Coração da Alambicada”, enfatizou o orgulhoso empresário, satisfeito com a aceitação que seu produto vem tendo junto aos mais exigentes consumidores, inclusive fora do país.

Mesmo com toda essa tradição familiar na produção de cachaça, Lindauro Nunes, por um período de sua vida esteve longe da terra, época em que administrava em Barreiras sua empresa de locação de veículos, guinchos e táxis. “O que me incentivou a investir no ramo da produção de cachaça foi me espelhar nos exemplos de muitos criadores de gado da região. “Os pecuaristas costumam utilizar os resíduos da cana para manter o peso dos animais no período de estiagem. Eu percebi que dava para aliar as duas coisas com a plantação da cana-de-açúcar, criar gado e produzir cachaça.

Começamos de forma artesanal e fomos pegando gosto pela coisa. Durante esse processo notei que era necessário fazer algo diferente do que existe na região, algo que fosse menos agressivo ao consumo humano. Em 2010 busquei assessoria e orientação do Sebrae quanto a produção e estrutura do alambique. Já com essas orientações fiz uma planta industrial adequada, que possibilita a produção de cachaça com uma concepção de higiene e zelo”, destacou Lindauro.

O empresário reafirmou ainda que o Oeste da Bahia já é reconhecido por ser um grande produtor de cachaça, mas que precisa melhorar a qualidade do produto final oferecido. “Isso só conseguiremos quando os produtores fizerem como eu fiz, forem atrás de capacitação e orientação. Quanto mais produtores estiverem alambicando uma cachaça diferenciada, mais o Oeste da Bahia se tornará referência nacional e internacional no ramo”, concluiu Lindauro.
Ao falar sobre o potencial da região na produção de cachaça de alta qualidade, o gerente regional do Sebrae, Emerson Cardoso, disse que o Oeste da Bahia tem um potencial muito grande até porque já existe uma história aqui em nossa região de produzir cachaça. “Agora o que precisamos trabalhar é a questão de melhorar a qualidade dessa cachaça para que tenhamos mercado. Não basta apenas ter tradição e produção, é preciso ter equipamentos de qualidade, técnica, conhecimento para que possamos ir além da porteira e o Sebrae tem sido parceiro dos produtores na busca da melhoria da cachaça produzida na região”.

Jornal Nova Fronteira