Pessoas com deficiências e a propaganda
  • Compartilhe:

A realização dos Jogos Paralímpicos Rio 2016 levantou em todo país questionamentos sobre a relação da sociedade com as pessoas com deficiência. Na cidade do Rio de Janeiro, que sediou os jogos, mais rampas de acesso foram construídas, calçadas foram rebaixadas, pisos táteis foram implantados, bem como semáforos sonoros. Tudo para facilitar a locomoção. Nos últimos meses, nunca houve no Brasil tantas campanhas publicitárias voltadas para esse tema

corrida

Por Vera Rocha, Diretora da Rocha Comunicação e de Relações Governamentais do Sinapro-Bahia

A realização dos Jogos Paralímpicos Rio 2016 levantou em todo país questionamentos sobre a relação da sociedade com as pessoas com deficiência. Na cidade do Rio de Janeiro, que sediou os jogos, mais rampas de acesso foram construídas, calçadas foram rebaixadas, pisos táteis foram implantados, bem como semáforos sonoros. Tudo para facilitar a locomoção. Nos últimos meses, nunca houve no Brasil tantas campanhas publicitárias voltadas para esse tema. Algumas emocionaram, outras causaram polêmica. Mas todas serviram a um propósito maior: fazer com que essas pessoas deixassem de ser invisíveis. A indiferença com as “diferenças” são inconciliáveis com a cultura e a civilização.

A emissora britânica Channel4 lançou o comercial intitulado “We’re The Superhumans” (Nós somos os superhumanos). O filme, criado pela agência 4Creative, mostra que não só os atletas paralímpicos podem fazer o que quiserem, como também todos os deficientes físicos. Participam do filme 140 pessoas com deficiência – atletas paralímpicos, músicos, dançarinos e artistas de diversas áreas – que mostram seu talento enquanto diziam “Yes, I can” (Sim, eu posso). Esta não foi a primeira vez que a emissora fez este tipo de peça. Em 2012, havia feito um filme para celebrar os atletas da Paralimpíada de Londres.

Aqui no Brasil, a África Zero criou para a Braskem dois filmes com narrações inspiradoras e impactantes, tendo como exemplos a determinação de: Petrúcio Ferreira, Claudiney dos Santos, Yohansson, Parré, Verônica Hipólito, Silvânia Costa e Alan Fonteles, todos medalhistas paralímpicos em importantes competições mundiais.

Emocionou, mas também criou polêmica com a peça publicada em parceria com a Revista Vogue, na qual colocou os rostos dos atores Cléo Pires e Paulinho Vilhena nos corpos dos paratletas Bruna Alexandre e Renato Leite, muito criticada nas redes sociais.

Com polêmica ou não, a propaganda em torno dos atletas paralímpicos vem cumprir esse papel de mostrar a capacidade de superação das pessoas não apenas por meio do esporte, como também de outras atividades. Esse é o maior legado.

Com a maior visibilidade, as pessoas com deficiência podem ganhar também mais espaço na sociedade e autonomia, deixando a condição de excluídas para serem protagonistas de suas próprias vidas. Mas o maior obstáculo a ser vencido, na verdade, continua sendo o preconceito na cabeça das pessoas. O preconceito, enquanto recusa da “diferença”, não nega apenas o corpo do outro, nega sua individualidade, sua humanidade.

Jornal Nova Fronteira