OS TALASSAS
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Todos nós temos o feio hábito e colocar rótulos no semelhante. Se alguém tem parecer diferente, defendendo ideologia oposta à nossa, logo se coloca alcunha depreciativa.

 

Por Humberto Pinho da Silva – Porto Portugal

Todos nós temos o feio hábito e colocar rótulos no semelhante. Se alguém tem parecer diferente, defendendo ideologia oposta à nossa, logo se coloca alcunha depreciativa.

Foi assim no tempo do Estado Novo: quem discordasse da política oficial, era, automaticamente, taxado de: “Comunista”.

O mesmo aconteceu, após a Revolução de Abril: quem levantasse a voz contra desmandos e desvarios, era: “Fascista”.
E ser fascista, era o mesmo que ser “Talassa”, no início do século passado.

Sabe, o jovem leitor, o que era ser Talassa?

Significava apoiante de João Franco. Homem odiado pelos republicanos e muitos monarquistas, ao ponto de Alfredo de Magalhães – considerado um homem bom e respeitador, – pretender agarrá-lo, na estação de S. Bento, para (segundo constou,) tirar-lhe as calças e aparecer, em público, em ceroulas!…

Mas, voltemos ao termo: “Talassa”

Em 1907, o Presidente da Republica Brasileira, convidou o Rei D. Carlos, a visitar o seu país.

Essa atitude, que foi motivada pela diplomacia do governo de João Franco, agradou aos portugueses, residentes no Brasil.

Gratos, Comissão, composta por figuras iminentes da colónia: Conde de Agrolongo, Comendador José Vasco Ramalho Ortigão, António Quartim, Joaquim e António Borges Caldeira, Fortunato Meneses, José Granado, Santos Lima e Abel da Cruz, deslocaram-se, em Novembro de 1907, à residência de João Franco, para entregar pasta de couro, artisticamente lavrada, com as armas portuguesas e fechos de ouro.

Continha mensagem ridícula, de mau gosto, recheada de infelizes rodriguinhos, que começava assim:

“Talassa! Talassa! O mar! O mar! Eis o grito de entusiasmo com que os Xenefonte saudaram, no Ponto Euxino, a redenção…”

Este texto pretensioso, serviu, como uma luva, para ridicularizar o ditador e seus apoiantes.

Os republicanos, passaram, desde então, a chamar, de troça, o monarquista de: “Talassa”

Como estávamos em tempos “democráticos” de plena “liberdade” ser “Talassa” ou parecer, após 1910, era tão perigoso ou mais, que ser cristão e defender a Igreja e o clero!…

Como este mundo é engraçado!… Como o Homem, é mau e vingativo!…

Jornal Nova Fronteira