O VELHO DO RESTELO
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Diz Camões, nos Lusíadas - C. IV. Est. 94 - 104 - que, quando as naus partiam para os descobrimentos de novas terras, havia um velho, respeitado, que falava em alta voz.

Por Humberto Pinho da Silva – Porto/Portugal

Diz Camões, nos Lusíadas – C. IV. Est. 94 – 104 – que, quando as naus partiam para os descobrimentos de novas terras, havia um velho, respeitado, que falava em alta voz.

Essa voz, personalizada no “Velho do Restelo”, era a dos imensos portugueses, que consideravam as aventuras desastrosas para Portugal e para o povo.

Eram desastrosas, porque levavam do reino: dinheiro e vidas; e o proveito era apenas: fama e vaidade, daqueles que se meteram a tão “desvairada” empresa.

O “Velho do Restelo” personifica, hoje, tudo que é contrário ao progresso. Apesar de retrógrado, é, também, a voz daquele que se baseia na experiência, acumulada ao longo de gerações e gerações.

Decorridos centenas de anos, os que não se encontram enfezados a ideologias, e se orgulham de pensarem pela sua cabeça, concluem, por certo: que o “Velho do Restelo” tinha razão.

O que ganhou Portugal com os descobrimentos? Pouco, muito pouco. Para além de cobiça e inveja, de outros povos, guerras e perdas de vidas.

Morreram em naufrágios e contendas com indígenas; e, foi também, com perdas de sangue, que se perdeu o Império, deixando ao abandono, milhares de portugueses inocentes…

Depois de David Livingston haver percorrido, para evangelizar, os africanos, e ter verificado as enormes riquezas, que possuíam, a cobiça, iniciou-se. Tanto mais, que o jornalista americano Stamley, não se cansava de as divulgar.

O “Direito Histórico”, ou seja: os territórios descobertos e reconhecidos pertença a uma nação, deixaram de ser válidos – segundo a Conferencia de Berlim. Apenas seriam, se fossem efetivamente ocupados.

Isso permitiu, às nações poderosas, assenhorearem-se das terras mais ricas, argumentando que não estavam efetivamente ocupadas.

Depois… Depois, é o que se sabe: revoltas de indígenas, instigados por países “amigos”, que levaram vidas e dinheiro… acabadas por exigências diplomáticas.

Por fim, as novas potências, reconhecendo o valor do petróleo e dos diamantes, além de outras riquezas, deram o “assalto” final….

Eram os “Ventos da História”; eu diria: “ Ventos da Cobiça”. Portugal tentou resistir, aguentar, mas nada Lhe valeu.

Mesmo que ganhasse no campo de batalha, perderia na diplomacia… Eram os “Ventos da História”; e contra ventos e tempestades, nada há a fazer…

Afinal o “Velho do Restelo”, tinha razão: Perdeu-se o Império; perderam-se vidas e dinheiro; e ficamos tão pobres – ou ainda mais, – como éramos ao iniciar as aventuras dos descobrimentos…
Ficou o orgulho e a fama, como dizia o “Velho do Restelo”.

A voz do povo tem sempre razão.

Como seria Portugal e o Mundo, se tivessem ouvido esse “Velho”?

Seriam, certamente, outros povos, outras gentes, a realizarem as aventuras…

Mas o Mundo seria o mesmo?

Jornal Nova Fronteira