O DINHEIRO EVAPORA-SE NO BANCO
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Havia em Vila Flor – a flor das Vilas, como dizia Raul de Sá Correia, – amigo de meu pai, que temia os bancos (não os de madeira, mas os que guardam o nosso dinheiro,) porque seu pai perdera tudo, quando, o banco falira.

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HUMBERTO PINHO DA SILVA – Porto, Portugal

Havia em Vila Flor – a flor das Vilas, como dizia Raul de Sá Correia, – amigo de meu pai, que temia os bancos (não os de madeira, mas os que guardam o nosso dinheiro,) porque seu pai perdera tudo, quando, o banco falira.

Recordei o sujeito ao saber da derrocada do BES – o maior e mais sólido banco privado português.

No tempo do Estado Novo, para evitar que os pobres perdessem economias, reformou-se em 1929 a CGD, que aceitava pequenos depósitos que rendiam juros superiores aos bancos comerciais.

Lentamente as instituições de crédito ganharam credibilidade. O cidadão sabia: dinheiro depositado era dinheiro que rendia e estava seguro, mesmo em pequenos bancos.

Mas os tempos mudaram. Veio a liberdade, a democracia, o direito à indignação – o povo regozijou, – e paralelamente chegou: a incerteza de trabalho e o receio de confiar aos banqueiros o dinheiro ganho com esforço e honestidade.

E como isso não fosse bastante, os bancos resolveram, que os depósitos a prazo deixassem de render ou rendessem juros irrisórios; e nas contas à ordem, se não tiverem saldo médio, de certa quantia, o dinheiro evapora-se… (Na CGD retiram quatro euros e noventa e cinco cêntimos, por mês).

Importância que a maioria dos cidadãos, não ganham em dois meses – estou a referir-me à chamada classe media.

Chego a pensar: a democracia é boa para os ricos; os pobres ganharam apenas o direito à indignação – que lhes arruína a saúde e nada lhes adianta.

Enquanto assim for, uns enriquecem, outros passam de remediados a pobres.

Agora, em Portugal, os de menos recurso encontram-se impedidos de economizar para a velhice ou para percalços, que inevitavelmente surgem, já que a maioria não consegue manter o saldo exigido pelos bancos.

Verdadeiramente não se pode ser pobre em Portugal! … Mas o mal não é só da democracia e dos partidos que a apoiam, porque sempre foi assim. Cada país tem seu fado, o fado português é de viver sempre de crise em crise.

Jornal Nova Fronteira