JANAÍNA X RÚSSIA
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A advogada Janaína da Conceição Paschoal se notabilizou por ter desencadeado o processo de “impeachment” contra Dilma Rousseff, e, por ter lutado com denodo para que a ex-presidente fosse destituída. Deve-se acreditar, portanto, que a imensa maioria dos brasileiros lhe seja grata pela coragem com que acelerou a derrocada do agrupamento político-partidário (a bem da verdade sectário...)

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Ronaldo Ausone Lupinacci*

A advogada Janaína da Conceição Paschoal se notabilizou por ter desencadeado o processo de “impeachment” contra Dilma Rousseff, e, por ter lutado com denodo para que a ex-presidente fosse destituída. Deve-se acreditar, portanto, que a imensa maioria dos brasileiros lhe seja grata pela coragem com que acelerou a derrocada do agrupamento político-partidário (a bem da verdade sectário…) que estava levando o País para a completa ruína moral e material. Mas, se deve ter presente, também, que os derrotados passaram cultivar ódio furibundo contra a pessoa de Janaína. Isso explica os comentários ridicularizadores feitos a propósito de manifestação dela (no Twitter), quando lançou mensagem a respeito dos riscos, para o Brasil, da instalação de uma base militar russa em território venezuelano.

Dias antes da fala da Janaína, surgiu no noticiário a informação de que os russos estariam preparando a montagem de base aeronaval na Venezuela, e, que tais rumores haviam atraído a atenção de nossas autoridades militares. Ora, se o elemento militar brasileiro – o mais qualificado para avaliar a questão – se preocupou com o fato, só isso bastaria para explicar os temores de Janaína. Conquanto ações bélicas da Rússia na América Latina pareçam pouco prováveis no curto prazo, existem inúmeros fatos correlatos a indicar que o assunto merece ser examinado com cuidado. A começar pela reativação de outras bases militares russas em Cuba e na Nicarágua

Revelam-se sumamente suspeitas as intenções da Rússia em manter instalações militares na América Latina, distante milhares de quilômetros de suas fronteiras. Tais instalações não se explicam por necessidades defensivas. Se não se explicam por interesses defensivos, só podem se explicar por interesses ofensivos. Contra quem? Apenas os Estados Unidos? Ainda que fossem, resultariam, também, em fator de preocupação, pela ameaça de trazer para a América ações bélicas de grande envergadura que, de uma ou outra maneira, nos afetariam.

Entretanto, a análise rigorosa, geopolítica e militar, do assunto nos obriga a adentrar em diversos outros fatos dignos de atenção. Em primeiro lugar é notório que a Rússia acalenta propósitos agressivos, como transpareceu na anexação forçada da Criméia (tomada da Ucrânia), da invasão da Geórgia, e das ameaças feitas à Polônia, à Romênia e aos países bálticos (Lituânia, Estônia e Letônia). Transparece, também, do aperfeiçoamento de armas devastadoras tais como os mísseis nucleares “Satã” e Bulava. Tais propósitos agressivos provém de que a Rússia continua comandada por comunistas, ainda que de modo dissimulado. Exemplo disso é a declaração de Vladimir Putin no sentido de que continua admirador do comunismo. Ou, a “reabilitação” póstuma de Stalin fomentada pelos dirigentes russos. Ora, o comunismo em sua própria essência é expansionista, imperialista e adepto dos métodos violentos de transformação política econômica e social. Paralelamente, a Rússia e a China mantém estreita cooperação militar, e, esta última também vem querendo se fixar na América do Sul, com bases militares no Equador e na Argentina (Patagônia). Consistem tais iniciativas apenas em preparativos para sedução e chantagem política, ou podem avançar para ofensivas militares?

Os fatos acima mencionados instigam a memória a recuar a tempos não muito distantes. Ché Guevara, o macabro companheiro de Fidel Castro, declarou em certa ocasião que o objetivo dos comunistas era o de criar diversos “Vietnãs” na América Latina. Tal plano transpareceu nitidamente quando da guerra das Malvinas, entre Inglaterra e Argentina (1982). Este episódio merece exame pormenorizado pela conexão que tem com o propósito da instalação de base militar na Venezuela.

Durante o governo “anticomunista” do General Galtieri, a Argentina subitamente invadiu as ilhas Malvinas e de lá expulsou a guarnição britânica. “Coincidentemente”, se achava nas proximidades uma poderosa força naval russa. Seguiram-se tratativas para o apoio da Rússia à Argentina, com o fornecimento de armas (através da Líbia, governada por Kadafi). As fricções entre Argentina e Inglaterra alimentaram ambições análogas da Venezuela com relação a parte do território da Guiana Inglesa (região do rio Essequibo), ao mesmo tempo em que estimularam a animosidade dos colombianos que também mantinham pretensões territoriais contra a Venezuela. Caso a Rússia interviesse em favor da Argentina (e da Venezuela), os Estados Unidos entrariam no conflito ao lado da Inglaterra, sucedendo-se outros atritos no interior da América do Sul e, obviamente, dentro dos respectivos países. No final, os “Vietnãs” sonhados por Guevara se transformariam em sangrentas realidades. O projeto fracassou porque a opinião pública argentina se opôs à aliança com a Rússia. Mas, ficou o precedente como advertência.

Enfraquecida por seu completo fracasso econômico, e, pelas convulsões que determinaram o esfacelamento da Cortina de Ferro (URSS), a Rússia temporariamente freou seus ímpetos expansionistas, até para conseguir dinheiro com o Ocidente, usando a máscara pacifista.

Contudo, o panorama pós Guerra Fria vem se alterando com fatos indicativos de possíveis confrontos militares. A escritora Svetlana Alexijevich, bielo-russa ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura de 2015, declarou que a Rússia está revivendo a histeria militarista. A Alemanha aconselhou seus cidadãos a estocarem alimentos, água, remédios, pilhas e dinheiro vivo e a defender as fronteiras exteriores da OTAN pelo receio de eventual guerra ou ataque atômico. O Japão vai rever sua legislação pacifista para poder enfrentar a China e sua títere, a Coréia do Norte acrescentando-se que os chineses vêm criando “ilhas” artificiais no Pacífico que se destinam a bases militares.

As duas guerras mundiais do século passado foram provocadas pelas forças revolucionárias para destruir a organização jurídica e social dos povos do Ocidente. A primeira (1914-1918) teve como principal objetivo de eliminar o resto da estrutura política da antiga civilização cristã, representado pelo então extinto Império Austro-Húngaro. A segunda guerra (1938-1945) foi tramada, com o objetivo de aniquilar as democracias liberais, pois tanto se vencesse o nazi-facismo ou o comunismo a Revolução Anticristã teria forte avanço. Pode ser, então, que aos revolucionários – insatisfeitos com os resultados da guerra psicológica que movem no Ocidente – estejam conspirando e trabalhando para fomentar novos conflitos, talvez diferentes dos anteriores, mas que lhes permitam expandir seu poder. Ou, usar de ameaças militares para chantagens políticas, mormente para estabelecer um governo mundial, seu antigo e permanente projeto. Tal conjetura tem fundamento porque nos âmbitos cultural e político as forças que gravitam em torno do comunismo vêm encontrando sólidas resistências na opinião pública. Os embustes político-diplomáticos utilizados para conseguir a sobrevivência do comunismo na América (a abertura para Cuba, o fraudulento “processo de paz” na Colômbia e a falsa “reconciliação” na Venezuela) são vistos com reservas e até hostilidade nos respectivos países e fora deles. As forças políticas da esquerda, por igual, vêm colhendo resultados desastrosos também na Europa do que constitui exemplo recente a saída da Grã-Bretanha da União Européia (“Brexit”). Se o fenômeno Trump aponta para um novo e perigoso isolacionismo dos Estados Unidos, afora outros motivos de preocupação, de outro lado mostra, igualmente, que as esquerdas norte-americanas representadas pela dupla Obama-Clinton sofreram sério revés.

Não se deve descartar, então, a hipótese de que as forças internacionais do comunismo – e nele incluo as de seu irmão gêmeo, o socialismo (Rússia e China, principalmente) – instiguem a eclosão de conflitos bélicos nos quais possam imiscuir-se, ou deles se aproveitar para aumentar seu poderio. E, num mundo marcado pela interdependência decorrente da globalização será difícil manter neutralidade externa, e, impossível mantê-la internamente, porque fatalmente a população se dividirá em facções, as quais, por sua vez, acarretarão fricções intestinas mais ou menos graves. Em tal cenário o Brasil também ficará exposto. Daí porque a advertência de Janaína não soa “bizarra”, como a qualificaram seus críticos. Se, no curto prazo nada indica que a Rússia pretende atacar algum país sul-americano, a construção da base militar constitui clara demonstração de que ela não exclui aventuras ofensivas no futuro, e nas quais poderemos estar incluídos se contrariarmos seus desígnios.

Da perspectiva mais ampla, que mira além das ações estritamente militares, se deve ter como certo que o atual ciclo civilizatório desembocará em guerras, risco que só agora começa a tomar a atenção das pessoas, até aqui condicionadas pela propaganda a mirar somente em bagatelas e em problemas sócio-econômicos, e, a inquietar-se com espantalhos como o fraudulento aquecimento global e outras quimeras de feições ambientalistas. Diz a sabedoria cristã que as guerras são consequência dos pecados. E, pecados não faltam nos dias de hoje, principalmente aqueles perpetrados contra o primeiro dos mandamentos, que consiste amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

* O autor é advogado e pecuarista.

Jornal Nova Fronteira