Falta de energia. Cerebral.
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Sem alarde – e também sem empreiteiras, sem envolvimento de afilhados políticos, sem limitações mentais, sem fosseis gerenciais encastelados na administração pública- a Marinha brasileira

Sérgio Fonseca – mail: s.de.fonseca@bol.com.br

Sem alarde – e também sem empreiteiras, sem envolvimento de afilhados políticos, sem limitações mentais, sem fosseis gerenciais encastelados na administração pública- a Marinha brasileira, com eficiência e rapidez, já está abastecendo uma das ilhas de nosso litoral, com energia elétrica produzida pelas marés, a chamada energia maremotriz.

A energia maremotriz pode ser de dois tipos: a) a energia cinética das correntes devidas às marés; b) a energia potencial pela diferença de altura entre as marés altas e baixas. Qualquer que seja a alternativa escolhida, as usinas maremotrizes  dificilmente afetarão o meio ambiente. No Brasil, o pioneirismo  e uso de energias diversificadas tem, tradicionalmente, ficado a cargo da iniciativa privada, não obstante os vastos recursos e técnicos que o Ministério de Minas e Energia dispõe há décadas, independentemente do grupo político no poder. Isso ocorreu com a energia eólica, a energia solar e as primeiras pesquisas sobre xisto.Só depois de algum tempo é que o governo federal vem, um tanto timidamente, fazer suas primeiras experiências com as diversas alternativas energéticas. A Marinha já deu um bom exemplo.

Esse exemplo da Marinha deveria ser seguido, no governo federal, por um interesse maior na energia geotérmica (vulcânica) e maior aprofundamento na energia nuclear, eólica, de biomassa,usinas fotovoltaicas (solar) além das pequenas experiências do programa XIS (de xisto). Os governos estaduais, sem exceção, deveriam ser também estimulados a estudar melhor – dentro do âmbito geográfico de seu estado – quais seriam as alternativas energéticas mais adequadas para a sua região.

Portugal, com litoral muito menor que o nosso, desde 2008 explora a energia maremotriz, produzida na Póvoa de Varzim. Existem usinas maremotrizes no norte da França, Rússia, Japão, Reino Unido, Havaí. Há usinas em fase de construção ou de planejamento, no Canadá, México, Reino Unido, EUA, Argentina, Austrália, Índia, Coréia do Sul.

Para implementação do sistema maremotriz, é necessário uma situação geográfica favorável e uma amplitude de maré relativamente grande. O Brasil apresenta condições favoráveis à implementação desses sistemas como, entre outros, o litoral maranhense, em que a amplitude do nível das marés chega a oito metros. Estudos no Pará e Amapá também apresentam condições favoráveis. Com costalitorânea de mais de 7 mil quilômetros, há dezenas de locais onde poderias ser instaladas usinas maremotrizes.

Isso não é suficiente. Para que isso ocorra, é necessária a mudança de mentalidade na área energética. A exploração política do Pré-Sal vem canibalizando recursos e vontade política nas altas esferas. Há 14 anos, por exemplo, uma fila com 640 projetos para a construção de pequenas hidrelétricas em vários pontos do país, dorme nas gavetas da Agência Nacionl de Energia Elétrica (Aneel). Se essas obras fossem autorizadas, o Brasil já disporia de7 mil megawatts de capacidade de operação, o que equivale a metade da capacidade de Itaipu.

E tem mais: o melhor aproveitamento da energia elétrica a ser gerada pela cana de açúcar, mostra que, para cada hectare de cana, temos um potencial de 8,5 mil kWh de bioenergia limpa, do ponto de vista ambiental. Energia essa complementar à sazonalidade do parque hidrelétrico nacional.

A predominância dada pelo Ministério de Minas e Energia às faraônicas hidrelétricas e mastodônticas usinas termoelétricas, mostra a necessidade da mudança de enfoque energético para o bem do país.

O atual ministro de Minas e Energia, Édison Lobão, no entender deste cronista, vem demonstrando um incrível amadorismo no campo energético. Mas sua antecessora, a então ministra Dilma Roussef, pecou por falta de aceitação de novas alternativas na área energética, por total ignorância dos princípios básicos de planejamento a médio e longo prazo (para ela tudo é “aqui e agora”). Hoje dispomos de ferramentas conceituais e tecnologia avançada que nos permitem estimar as necessidades de infraestrutura com duas gerações de antecedência. Só nos falta vontade política e vontade de acertar, além de criatividade administrativa, inovação mental e profundos conhecimentos de planejamento a médio e longo prazo. Sem isso, o problema de falta de energia se perpetuará.

Jornal Nova Fronteira