A DESGRAÇA DE SER CADEIRANTE
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Tenho o feio costume de escutar conversas, quando viajo ou bebo o cafezinho.

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Humberto Pinho da Silva – Porto, Portugal

Tenho o feio costume de escutar conversas, quando viajo ou bebo o cafezinho.

Sei que não devo, mas não resisto à tentação. O vício tem-me sido útil para conhecer o que pensa o semelhante, e muitas vezes encontro matéria para as conversas, que com prazer, travo com o leitor.

Dias destes, vindo de metro da Povoa do Varzim para a Trindade, estacionou a cadeira de rodas, bem ao meu lado, uma jovem, que não teria ainda vinte anos.

Era bonita, de grandes olhos brilhantes e irrequietos. Vinha acompanhada por senhor, que pensei ser o pai. Enganei-me.

Durante o percurso, conversaram animadamente. Dizia a jovem que os inválidos sentem dificuldade em movimentarem-se nas cidades.

Os prédios não possuem rampas, assim como a maioria das casas comerciais, repartições públicas e até as caixas Multibanco são muitas vezes inacessíveis.

– Veja! – Dizia com mágoa a rapariguinha. – São poucos os templos que têm acesso por rampas! Olhe: para a nossa Póvoa. Cresceu, a olhos vistos, nas últimas décadas. A maioria dos prédios não têm mais de vinte anos, todavia raros são os que permitem acesso a cadeirantes.

O senhor sacudia a cabeça em sinal de aprovação. Lamentando que não houvesse esse cuidado, mesmo em prédios com elevadores.

Passei a viagem a refletir sobre o assunto, e conclui: que muitos construtores, engenheiros e arquitetos são de grande insensibilidade.

O que custa criarem rampas de acesso aos prédios? Não se colocam elevadores, para facilitar o acesso aos andares superiores, e rampas, nas entradas das garagens? Então para quê colocar degraus nas entradas?!

Que prédios antigos fossem construídos sem esse requisito, é desculpável – mas não se compreende, – mas que as Câmaras aprovem prédios novos sem rampas de acesso, é inacreditável.

Não será falta de respeito para os que tiveram a infelicidade, por velhice ou acidente ficaram inválidos?

Jornal Nova Fronteira