20 de Setembro, Dia do Gaúcho. Por quê?

Publicada em 23/09/2014 às 11:09

Vinícius Azzolin Lena – editor chefe do Jornal Nova Fronteira

“Como aurora precursora
Do farol da divindade
Foi o 20 de Setembro
O precursor da liberdade”

(Primeira estrofe do Hino Riograndense)

Seria muita pretensão minha querer explicar nestas pouca e mal traçadas por que o Estado do Rio Grande do Sul e em todo o Brasil, onde há comunidades oriundas daquele estado sulino, comemora-se o dia 20 de Setembro como se um segundo 7 de Setembro fosse. Contudo acho que poderemos ter uma pálida idéia começando pelas origens e de onde este sentimento cívico diferenciado se formou. E ao mesmo tempo abordar as origens do movimento nativista que gerou osCentros de Tradição Gaúcha  CTGs, hoje espalhados pelo Brasil a fora.

A data 20 de Setembro aparece no calendário da história do Brasil para registrar o dia em que, em 1835, tendo por cenário a ponte da Azenha o General Bento Gonçalves, frente a um piquete de cavalarianos, invade e toma de assalto Porto Alegre, a capital da província e expulsa de lá as tropas imperiais, dando início a um dos mais demorados e sangrentos conflitos intestinos da história do Brasil: a Guerra dos Farrapos, que durou até 1845.

Por isso, ante o significado histórico, a data foi eleita pelo movimento nativista, e oficializado mais tarde pela Assembléia Legislativa, como sendo o Dia do Gaúcho. E hoje, principalmente naquele estado, as comemorações se estendem por uma semana: a Semana Farroupilha.

E para entender o movimento nativista, temos que retroceder aos Séc. XVII e XVIII, nas origens da colonização daquele território de clima ameno e campinas luxuriantes, denominado inicialmente pelos portugueses de Continente de São Pedro do Rio Grande, pelo qual guerrearam por centenas de anos – e de tratados – as coroas de Portugal e Espanha. E a cada tratado, a fronteira que dividia portugueses e espanhóis avançava ou recuava ao sabor dos interesses e do poderio do momento. E isso dava aos primeiros colonizadores do Continente de São Pedro uma vivência de incertezas e constantes guerras contra um inimigo externo. Não é preciso ser douto em sociologia para entender que isso gerou na alma ou subconsciente coletivo dos habitantes locais um sentimento de autodefesa, que marcou para sempre, de geração em geração, este senso comum cíviconativista que perdura até hoje como uma característica do povo gaúcho.

Pois foi com a finalidade de manter vivo este sentimentos nativista de cultuar usos e costumes populares característicos que surgiu na década 1950, nos meios estudantis – nas faculdades de Engenharia e de Agronomia – o Movimento Tradicionalista Gaúcho, cujo primeiro passo foi fundar em Porto Alegre o primeiro CTG, o 35 Centro de Tradições Gaúchas. Milhares outros que vieram depois – no estado e fora dele –, espalhados em todo o território nacional e alguns até no exterior, que existem com a finalidade precípua de manter viva a cultura e os costumes populares herdados dos formadores da Província de São Pedro do Rio Grande, o hoje Estado do Rio Grande do Sul.

Como a ocupação do território dera-se a partir da metade Sul, cuja topografia faz parte do bioma Pampa, na vizinhança do Uruguai e da Argentina, as coxilhas recobertas de pastagens nativas acabaram por atrair para esse território, paulistas de Sorocaba e mineiros de Vila Rica, onde estabeleceram grandes fazendas para a criação de gado e muares. Pois essa atividade campesina – que iniciou a ocupação e povoamento – com seu linguajar típico de fronteira pampiana, seus usos, costumes e indumentária, serviu de inspiração e parâmetro para a consolidação do movimento desencadeado na década de 1950.

E como essa região foi palco das maiores batalhas entre farroupilhas e imperiais – Ponche Verde e Fanfa – o 20 de Setembro, que deu início àquela guerra separatista, é cultuado com devoção e civismo.

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